De Inglaterra chegam-nos notícias animadoras sobre as tareias monumentais que Keir Starmer, líder trabalhista, anda a dar sobre o farsante Boris Johnson, cuja natureza gelatinosa não tem resistido à boa preparação do adversário durante os debates parlamentares. Por muito que a minha simpatia se mantenha inalterada em relação a Jeremy Corbyn, o seu sucessor está a dar sinais promissores quanto ao reenvio dos conservadores para a merecida oposição a um novo governo mais competente e eficiente.
Por estas bandas não se estranha que um líder de esquerda multiplique sovas retóricas contra a mediocridade dos opositores situados à sua direita. E isso mesmo pôde constatar-se esta tarde, quando António Costa voltou a ter mais um tranquilo passeio no debate quinzenal.
André Silva iniciou a disputa, confirmando que o PAN anda a orientar-se cada vez mais para essa tal direita a que enjeita verbalmente pertencer. Quando quer impedir Mário Centeno de ir para governador do Banco de Portugal, quem prefere em seu lugar? Um dos muitos afilhados ali metidos à pressão durante o desgoverno de Passos Coelho, como foi o caso de Durão Barroso? Ou Helder Rosalino, que foi secretário de Estado de Vítor Gaspar e a quem Carlos Costa promoveu na expetativa de ser o seu delfim, acaso a direita regressasse ao poder? Ou algum dos muitos economistas, que têm criticado veementemente o governo de António Costa e demonstram à saciedade só dizerem alguma coisa de consistente sobre o que já aconteceu, porque, relativamente a prognósticos para o futuro, são como o tal capitão do F. C. Porto, que prognósticos só arriscava no fim do jogo? Porque o sentimento antitauromático não consegue ser monopolizado, porque assumido por outras bancadas, o PAN procura desesperadamente algo, que lhe dê o protagonismo suficiente para não replicar o ocaso já antes verificado com o PRD eanista.
Seguiu-se Rui Rio, que voltou a estar no seu pior, porque quis utilizar demagogicamente o Novo Banco para atacar o governo. Ora, sendo ele um dos tais economistas atrás referidos, tem conhecimentos suficientes para saber falsos os fundamentos em que assentou a sua intervenção. E pior que isso, demagógicos no seu descarado populismo. Em definitivo os milhões transferidos para o Fundo de Resolução não são a fundo perdido, mas empréstimos de longo prazo, passíveis de serem remidos não só nesse valor, mas também no dos juros respetivos. Não, não é o governo quem afere as contas do Novo Banco, mas sim o Banco Central Europeu e quem audita as suas contas. Não, não é o governo quem detém os processos sobre as imparidades já resolvidas e quem delas aproveitou.
Que, ademais, seja o PSD a querer lucrar com uma embrulhada, cuja responsabilidade foi inteiramente sua e com a promessa de Maria Luís Albuquerque em como não custaria um cêntimo aos contribuintes, só denota uma inaceitável falta de escrúpulos por parte de Rio.
As demais intervenções à direita não merecem referência detalhada: o CDS voltou a exibir a indigência intelectual de Cecília Meireles e João Almeida, o Aldrabão do Chega ainda continuou de rastos com a trivela de Quaresma e Cotrim de Figueiredo roçou o absurdo quando quis ver Portugal em rutura de relações com a República Popular da China, como se fosse a superpotência em ascensão, e com quem as relações têm de ser incrementadas, a campeã das violações dos direitos humanos, quando Cotrim não se incomoda com tantas ditaduras ferozes, mas protegidas pelos norte-americanos, que prefere ignorar.
Nas esquerdas, reconheça-se consistência, mas não inteira razão, das palavras de Catarina Martins sobre o mesmo tema do Novo Banco, as pertinentes chamadas de atenção de Jerónimo de Sousa para as dificuldades por que estão a passar muitos trabalhadores, que perderam empregos e rendimentos com esta pandemia e o alerta, igualmente oportuno do deputado do PEV (efetivamente ecologista!) sobre a probabilidade inquietante de prolongamento de exploração da central nuclear de Almaraz.
Quando Ferro Rodrigues deu por terminada a sessão, os socialistas puderam orgulhar-se de mais uma demonstração plena da competência e visão estratégica do seu governo, enquanto as direitas saíram a remoer a frustrações de terem sido, uma vez mais, cilindradas.
Caso para dizer que, os parlamentos de Lisboa e de Londres, equivalem-se nos bailes dados pelos líderes à esquerda às incompetentes direitas com quem lidam.
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