Na Natureza os urubus desempenham uma função imprescindível por se incumbirem dos despojos remanescentes das carcaças animais, mortas por doença ou nas garras de um qualquer predador. Daí que, olhando-os a planar nas alturas donde inspecionam as redondezas, só possamos congratularmo-nos por existirem e prevenirem os perigos das moléstias disseminadas a partir da carne putrefacta.
No universo da imprensa os urubus são de natureza oposta. Planam, igualmente, nas alturas a aferir se alguma morte lhes aprouverá, mas os objetivos são outros que não só os da exclusiva alimentação. Pelo contrário: enquanto na natureza previnem doenças, na imprensa criam condições propícias a uma cultura contrária ao interesse público.
Vem isto a propósito da manchete do covil de necrófagos acoitado no grupo Cofina: que comprazimento mostram quando morre alguém no Serviço Nacional de Saúde e podem zurzir com deleite contra as políticas governamentais! No caso em apreço a vítima, um homem que terá chegado ao hospital de Beja sem que um médico lhe tenha atempadamente constatado o estado terminal, não importa que situações dessas sejam frequentes nas ambulâncias antes sequer da chegada ao hospital, ou que lá chegados, consultados e internados logo morram porque o corpo já não resiste à doença. Ou, sobretudo, quantas notícias advém de casos similares nos hospitais privados? Para os urubus do «Correio da Manhã» e seus altifalantes nos demais órgãos de comunicação social, importa fomentar o epidémico descontentamento público calando todas as notícias positivas - e são muitas! - que diariamente confirmam a justeza das políticas governamentais. Por exemplo a que hoje se soube e à qual esses urubus tapam as orelhas para não ouvirem: que a promessa de contratação de cinco mil doutorados durante a legislatura anterior se cumpriu, isentando-os da precarização a que, até então, estavam sujeitos. E essa é realidade muito mais determinante do que a trágica morte de uma pessoa doente em Beja: porque o emprego científico contribui para a alteração estrutural da economia portuguesa, cada vez menos dependente da mão-de-obra não qualificada e potenciada na que lhe acrescenta valor e aumenta o PIB.
Mas não são os urubus da Cofina os paladinos daquele país no diminutivo referido por Alexandre O’Neil em que juizinho é que era preciso?
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