terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Urubus a planarem por aí...


Na Natureza os urubus desempenham uma função imprescindível por se incumbirem dos despojos remanescentes das carcaças animais, mortas por doença ou nas garras de um qualquer predador. Daí que, olhando-os a planar nas alturas donde inspecionam as redondezas, só possamos congratularmo-nos por existirem e prevenirem os perigos das moléstias disseminadas a partir da carne putrefacta.
No universo da imprensa os urubus são de natureza oposta. Planam, igualmente, nas alturas a aferir se alguma morte lhes aprouverá, mas os objetivos são outros que não só os da exclusiva alimentação. Pelo contrário: enquanto na natureza previnem doenças, na imprensa criam condições propícias a uma cultura contrária ao interesse público.
Vem isto a propósito da manchete do covil de necrófagos acoitado no grupo Cofina: que comprazimento mostram quando morre alguém no Serviço Nacional de Saúde e podem zurzir com deleite contra as políticas governamentais! No caso em apreço a vítima, um homem que terá chegado ao hospital de Beja sem que um médico lhe tenha atempadamente constatado o estado terminal, não importa que situações dessas sejam frequentes nas ambulâncias antes sequer da chegada ao hospital, ou que lá chegados, consultados e internados logo morram porque o corpo já não resiste à doença. Ou, sobretudo, quantas notícias advém de casos similares nos hospitais privados? Para os urubus do «Correio da Manhã» e seus altifalantes nos demais órgãos de comunicação social, importa fomentar o epidémico descontentamento público calando todas as notícias positivas - e são muitas! - que diariamente confirmam a justeza das políticas governamentais. Por exemplo a que hoje se soube e à qual esses urubus tapam as orelhas para não ouvirem: que a promessa de contratação de cinco mil doutorados durante a legislatura anterior se cumpriu, isentando-os da precarização a que, até então, estavam sujeitos. E essa é realidade muito mais determinante do que a trágica morte de uma pessoa doente em Beja: porque o emprego científico contribui para a alteração estrutural da economia portuguesa, cada vez menos dependente da mão-de-obra não qualificada e potenciada na que lhe acrescenta valor e aumenta o PIB.
Mas não são os urubus da Cofina os paladinos daquele país no diminutivo referido por Alexandre O’Neil em que juizinho é que era preciso?

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