quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

O direito fundamental sobre o momento de morrermos dignamente


Neste que será o dia em que muito provavelmente os projetos de lei para a despenalização da morte assistida irão ser aprovados na Assembleia da República podem-se aferir quatro tipos de oposição apostados em, até ao último momento - ou seja quando o diploma final for publicado no Diário da República - travarem essa expressão maioritária da vontade dos portugueses.
As diversas igrejas, com natural destaque para a católica por ainda ser maioritária, contradizem-se nos seus próprios princípios, porque não só foram historicamente os paladinos de mortíferas guerras contra os que consideravam infiéis, mas também nunca enjeitaram servir os exércitos, quando supostamente os acompanhavam a fim de dar consolo espiritual aos que disparavam no gatilho. Quem protagonizou o atear das fogueiras inquisitoriais ou apoiou a cruzada salazarista nas ex-colónias deveria resguardar-se num recato, que infelizmente não condiz com o seu descaramento. As Igrejas, que apoiaram e continuam a apoiar morticínios onde ganham absurda influência - vide a influência evangélica em África, causadora de diversas guerras civis, ou no Brasil onde se calam perante o assassinato dos ameríndios - confirmam a sua condição pestífera, que as sociedades humanas tardam em debelar.
Há também os que se opõem, porque mesmo sem ponderarem nos quês, nem nos porquês, querem que a despenalização não passe porque a sabem apoiada pelas diversas esquerdas. E sendo eles ignaros, que se afirmam de direita, porque se iludem com a ascensão no elevador social, que há muito para eles gripou, permanecem teimosamente sentados à espera de um ausente Godot.
Sobram também outros prosélitos da direita, que trabalhando ou não no setor dos cuidados paliativos, o sabem fonte segura de rendimentos de que não querem por nada prescindir. Acoitados nas Misericórdias e outras instituições de «apoio social», onde tantos se alimentam à conta da falsa caridade para com quantos sofrem, são tão convictos na defesa da privatização da saúde, quanto da criação de milhentas oportunidades nesses tais cuidados que, pudessem escolher, muitos dos que sofrem as dores de males incuráveis (e não apenas os fisiológicos!) declinariam.
Restam, enfim, os comunistas, que me escandalizam ao convergirem com os setores ultramontanos das direitas, e sobretudo com o parasita fascista. Alguém aventou a hipótese da definitiva demonstração da falsidade da lendária injeção dada atrás da orelha dos velhinhos. Mas quem nela acreditou - e vimos uma mentecapta com um cartaz alusivo a essa hipótese numa manifestação dos que contestam a lei! - teimará em manter a estúpida opinião. Porque, infelizmente, questões como esta demonstram à saciedade, que a burrice é mal que facilmente se contamina em contraponto com a inteligência bem mais difícil de prevalecer entre quem se conforma na preguiça das ideias feitas...

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