sábado, 8 de fevereiro de 2020

A agenda política que se adivinha por trás do senhor Ventinhas

Chegamos ao fim-de-semana com a previsível guerra que alguns magistrados do Ministério Público movem à Procuradora Lucília Gago inconformados por ter sido António Costa a nomeá-la para o cargo e mandando a antecessora para o limbo do esquecimento donde nunca merecera sair.
Pode-se ouvir um «especialista» nas coisas da Justiça como reconhecidamente é (pelo menos para ele mesmo!) José Gomes Ferreira lançar nos telejornais da SIC uma patética teoria da conspiração, mas a maioria dos portugueses está mais do que ciente da necessidade de qualquer organização só se mostrar eficiente com uma hierarquia sábia e competente. Daí que se a própria Constituição reconhece caberem aos órgãos de soberania a definição da política criminal, sendo os magistrados seus subordinados, não se poderá aceitar que eles queiram agir em roda livre sem ninguém que lhes faça o devido escrutínio.
Uma vez mais vem ao de cima a confessada intenção, expressa em Congresso dos próprios - por sinal então patrocinada pelo Grupo Espírito Santo - em como ambicionavam transformar o século XXI naquele em que o poder caberia ao judicial, por entenderem terem sido os anteriores os do primado do legislativo e do executivo.
Como não somos inocentes só podemos constatar que, nos países onde essa ascensão do poder judicial se verificou - na Itália antes de Berlusconi ou no Brasil antes de Bolsonaro - o resultado subsequente fala por si quanto à malignidade da solução.
Temos, então, um sindicato, que se comporta como organização golpista, quando descreve a situação da Justiça como se configurasse um cenário de terror, prenunciador de um apocalítico fim do regime. O que pretende é suscitar uma ilegítima e, sobretudo, inaceitável pressão sobre  Lucília Gago, com um claro apelo à insubordinação. Razão mais do que justificativa para que o sr. Ventinhas seja indiciado judicialmente por atropelo à nossa ordem constitucional. 
É que a Democracia tem de responder firmemente a quem a quer transformar em coisa outra, à medida da agenda de extrema-direita, que se adivinha ser a deste tipo de sinistros paladinos.

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