Se sobrasse algum pudor a Francisco Louçã depois de, em 2011, ter propiciado o acesso de Passos Coelho ao governo graças à coligação negativa, que promoveu contra o governo de então, não voltaria a sugerir algo que se lhe assemelhasse. Aprendia a lição, compreendia como ela lhe saíra cara em deputados e definitiva descredibilização que o forçaria a abreviar a sucessão à frente do Bloco e constituía-se como voz senatorial oposta à de Marques Mendes ocupando uma tribuna donde fustigasse semanalmente os partidos das direitas.
Acontece que Louçã parece convencer-se - assim como sucede com as suas pupilas à frente do Bloco! - que é possível conseguir em Portugal aquilo que o Podemos procurou alcançar em Espanha e falhou rotundamente: promover o definhamento dos socialistas e tornar-se no mais forte partido de esquerda com pretensões a alcançar o governo. Daí que tenha o PS como alvo contínuo da sua mira, independentemente de com isso converter-se no idiota útil com que as direitas contam para reapossarem-se do poder. Haverá quem, nas sedes das direitas, faça fisgas para que Louçã repita a estratégia de há dez anos atrás e a leve a dar-lhes a vitória com que possam recuperar as intenções não cumpridas nos quase cinco anos de efetivo recuo da qualidade de vida dos portugueses.
O que a mais recente crónica de Louçã no «Expresso» revela é o seu pesar por as sondagens ignorarem as suas convicções. E na abundância de referências às coligações negativas contra o governo se recordar a imperdoável traição por ele cometida e que tantos danos causou a quem perdeu rendimentos, empregos e, sobretudo, a esperança de que voltasse a ter alguma melhoria nas perspetivas de futuro. Para quantos desistiram antes de António Costa provar que não seria necessariamente assim - e cujos números nunca conheceremos porque a imprensa não revelou, e bem, a dimensão do suicídio entre 2011 e 2015! - o que se reconquistou nestes quatro últimos anos já não foi a tempo de lhes evitar o desespero do gesto derradeiro.
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