sábado, 22 de fevereiro de 2020

Quando o sofrimento dos galgos prenuncia o fim do dos touros


A explicação aventada por alguns amigos de João Moura para a forma como deixou degradar a condição dos seus galgos levanta uma pertinente questão sobre o futuro das touradas em Portugal: não será o argumento económico a justificar o fim da barbárie, que elas representam?
É certo que os defensores dos espetáculos taurinos vieram congratular-se, há poucas semanas, com o aumento do número dos espectadores nas corridas organizadas durante o ano transato, mas esse comprazimento lembrou a dos familiares dos doentes terminais que facilmente se iludem com aquelas canónicas melhorias em vésperas de lhes ser declarado o óbito. Com o cerco movido pela opinião pública, em grande parte conquistada para a ideia de não se justificar um espetáculo caracterizado por infligir sofrimento aos touros empurrados para a arena, será fatal o desapego dos aficionados a um hábito, que sabem torná-los alvo de censura.
Não sabemos, igualmente, as razões por que João Moura está a passar por apertos financeiros, mas duvido que um cavaleiro ou um toureiro consiga grandes cachets nas poucas corridas para que possam anualmente ser contratados. Daí que o aspeto terrível dos cães postos a salvo dos maus tratos do dono pareça colar-se simbolicamente ao de uma tradição tauromática em vias de deixar definitivamente de ser o que foi... 

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