domingo, 16 de fevereiro de 2020

Como devolver a esperança a quem, há quatro anos, a recuperou


Longe vão os dias de novembro de 2015 quando António Costa declarou o óbito ao «arco da governação» do nosso descontentamento e convergiu com Jerónimo de Sousa e Catarina Martins para a criação de uma maioria parlamentar, que perduraria nos quatro anos seguintes.  Não deveria ter-me iludido, já que o passado me dera lições bastantes sobre a inconveniência de acreditar na competência, lucidez e determinação dos que considero os da minha trincheira política. É que ficaram pelo caminho muitas das vãs esperanças alimentadas logo a seguir à Revolução de Abril!
Quatro anos depois, com o governo minoritário a fechar-se de forma autista numa falsa autossuficiência, as demais esquerdas a darem tiros nos pés em nome de dogmas insensatos e a acelerada reconversão das direitas aos seus pendores mais extremistas, dá para recear o que nos trará o futuro a médio prazo. Até porque estará em Belém quem para lá foi com a assumida missão de devolver o poder aos que considera donos disto tudo e andam por ora a conterem os danos de não o abocanharem para já.
No governo aplaudo o que Pedro Nuno Santos tem feito em prol da recuperação da ferrovia, mormente o que agora se sabe a propósito de aquisição de composições à Renfe de forma a contornar as limitações do aumento da procura dos serviços da CP enquanto não chega o novo material circulante já encomendado. Mas é difícil engolir a amarga pílula de Marta Temido lançar novo concurso para a PPP do Hospital de Cascais ou Graça Fonseca nomear para o Património quem o vai querer rentabilizar a favor dos interesses imobiliários donde é oriundo.
As esquerdas governamentais poderiam ganhar lucidez, seguindo o conselho de Manuel Carvalho da Silva que, no Diário de Notícias, reconhece que o Bloco e o PCP precisam de defender-se das inusitadas desconsiderações socialistas “mas terão de ser mais convergentes e ofensivos na definição da agenda desta legislatura”, buscando menores denominadores comuns onde mais sentido fazem. E dá exemplos: no perfil da economia, na distribuição da riqueza, na coesão social e territorial, nos constrangimentos orçamentais e no serviço da dívida. Sem desprimor para as qualidades negociais de Duarte Cordeiro, podemo-nos questionar se o referido Pedro Nuno Santos não estará a fazer mais falta na recriação parlamentar de coligações positivas, que obstem à repetição das de sinal contrário, causadoras de indigestos amargos de boca no passado?
É que, como conclui o antigo líder da CGTP, hoje investigador na Universidade de Coimbra, “só assim existirão espaço e condições para soluções que não matem a justa esperança da esmagadora maioria dos portugueses.” Tanto mais que o reverso dessa hipótese pode revelar-se sinistro se potenciar o incremento da influência social e eleitoral da desventurada assombração sugerida por algumas sondagens.

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