quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

E se Mário Centeno contratasse Rui Pinto para a Autoridade Fiscal?


Foi o advogado William Bourdon, conhecido por ter feito parte das defesas de Julian Assange, Edward Snowden ou Hector Falciani, quem disse esta semana, que Portugal deveria estar orgulhoso com Rui Pinto em vez de teimar em condená-lo. É que o jovem de Gaia é muito mais do que um simples hacker: a sua atividade, à partida ilegítima, assumiu contornos, que secundarizam essa ilicitude para se enquadrar nas que defendem o bem público. Senão vejamos: dado continuarmos a viver numa sociedade dividida em classes sociais em que as privilegiadas enriquecem à custa do conhecimento a elas facultado pelas sociedades de advogados, responsáveis por lhes branquearem capitais, pondo-os a coberto das autoridades fiscais nos tais paraísos, que tardam em ser extintos, outra arma não resta aos que empobrecem, a não ser usarem-se dos meios disponíveis para desmascararem aquelas falcatruas cuidando do devido pagamento dos impostos de quem a eles escapou.
Porque é pertinente a pergunta: quanto contribuiríamos para as receitas do Estado se todos quantos a tal estão obrigados cumprissem com essa responsabilidade? Provavelmente a suposta redução do IVA da eletricidade pretendida pelo Bloco, pelo PCP e pelo PSD equivaleria a uma ninharia comparada com as verbas recolhidas de agentes do mundo do futebol, que embolsam os valores das transferências milionárias sem pagarem o devido ao Tesouro dos respetivos países, ou quantas Luandas Leaks permanecem por desvendar nos muitos terabits recolhidos por Rui Pinto e aos quais a Judiciária e o Ministério Público preferem ignorar.
Houvesse uma intenção clara de tudo desvendar e adivinha-se que muitos estariam por esta altura a temer pelos escândalos em que se veriam envolvidos.  Daí que seja importante o clamor crescente dos que secundam William Bourdon no que disse a propósito de Rui Pinto. Imagine-se o que aconteceria se, em vez de condenado a uma injustificada prisão, ele fosse contratado pelo Ministério das Finanças para assegurar um combate decisivo à evasão fiscal!
Poder-se-ia, então, acreditar que os crimes de colarinho branco sofreriam a devida machadada e nós, contribuintes, veríamos finalmente aliviado o choque brutal que Vitor Gaspar impôs e de que ainda nos tardamos a livrar.

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