quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

O Orçamento de Estado e a desfaçatez das ultradireitas


Grande animação percorre a direita televisiva quanto à probabilidade de uma coligação negativa entre o PSD, o Bloco e o PCP para, em conjunto, baixarem para 6% o IVA da eletricidade. O facto de se tratar de uma hipótese, que reduziria as receitas do Estado em 700 milhões de euros é uma minudência para os porta-vozes dos três partidos que, ora se escusam a apresentar alternativas orçamentais para compensar esse valor, ora apostam no mais caricato populismo para as fundamentar. Não admira que Mário Centeno tenha comentado que caíra a máscara de sentido de responsabilidade em Rui Rio. Se o hábito faz o monge, aquele que herdou de Passos Coelho parece modelá-lo de acordo com o que sabemos serem os costumes laranjas quando o pote lhes fica demasiado distante: a aparente ultrapassagem de todos os demais partidos parlamentares pela esquerda como se não nos lembrássemos das dietas de rendimentos e direitos, que nos sujeitaram quando eram governo.
Convenhamos que o PSD ainda persiste como direita minimamente digerível no atual contexto da política nacional. Porque vai-se a ver o ultraliberal Cotrim e quer, de uma assentada, a privatização do pouco que o Estado detém, como se os exemplos desastrosos de múltiplas alienações de empresas públicas não bastassem para concluir que essa é sempre a pior das decisões. Quanto ao Chega fica-nos a proposta do Ventura em recambiar Joacine para a Guiné-Bissau numa demonstração de um racismo primário, só ultrapassado pelo seu sequaz que, no comício do Porto, fez gala na saudação nazi. E o recauchutado CDS torna-se particularmente mediático com o seu dirigente que chamou Aristides Sousa Mendes de «agiota de judeus» e deu vivas a Salazar e à Pide.
Anda a revelar-se assaz perigosa a complacência dos poderes públicos com o atrevimento dos que, defendendo abertamente o fascismo, o propagandeiam com a maior das desfaçatezes, convencidos de continuarem impunes quanto ao que criminosamente proclamam. A História deu-nos já sobejas demonstrações de casos em que, poupando-se os inimigos, cedo os teríamos como verdugos. O urgente sobressalto antifascista tarda em despontar. E até pode replicar o que aconteceu recentemente em Itália, onde o movimento das «sardinhas» conseguiu travar eficientemente a suposta marcha sobre Roma, que Salvini estava a preparar...

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