Não estranho que o texto intitulado «Grunhos à solta para os lados da Amadora» tenha suscitado reações insultuosas de uns quantos leitores que, obviamente, cuidei logo de eliminar e bloquear nas várias páginas de cuja gestão me incumbo. É que, como se constatou, grunhos à solta há-os por outros lados e até os encontramos em páginas de inspiração socialista. Mas não é de hoje a constatação em como a xenofobia, ou qualquer outro tipo de preconceito mais primário, extravasa as direitas, onde tem o poiso mais entendível. Desde que, em França, se viram transições diretas de militantes e simpatizantes do Partido Comunista para a Frente Nacional de Le Pen, depois reiteradas quando a filha lhe assegurou a sucessão, que se constata quão permeável é a fronteira entre quem defende uma visão progressista da sociedade e quem aposta no regresso às mais tenebrosas formas de retrocesso.
Existe um problema muito sério no atual mundo ocidental: as redes sociais vieram agravar a tentativa dos Donos Disto Tudo em convencerem uma grande parte da população da inexistência de diferenças significativas entre as esquerdas e as direitas. Já o estavam a propalar através dos seus meios audiovisuais, complementados com a alienação consumista, que favorecia o egoísmo individualista, mas melhor o fazem através dos trolls, capazes de manipularem os algoritmos das redes sociais de forma a aumentarem essa aversão à ideologia. Eles sabem que se aprofundarem as razões para serem de esquerda ou de direita, a maior parte dos explorados não tem dúvidas para que lado se inclinar. Manipulá-los de forma a que nem sequer nisso pensem explica que sejam as camadas com menor acesso à educação a votarem em peso em Trump, em Bolsonaro ou em Salvini, dando-lhes vitórias, que replicam a estratégia de Hitler em chegar ao poder através do suposto voto democrático.
O debate entre quem se indigna com a violência policial e os que estão dispostos a apoiá-la ou a tolerá-la, mesmo quando os indícios provatórios parecem bastante explícitos, só revela a urgência de promover um intenso trabalho na Educação com um foco muito sério na Cidadania e no que ela implica, quer quanto aos direitos, quer aos deveres de cada indivíduo. Assim como se torna urgente a intervenção ativa do Estado no combate à informação desonesta dos pasquins e seus sucedâneos televisivos ou às fake news nas redes sociais.
Temos uma Constituição que, se cumprida com o devido rigor, estabelece fronteiras, que não podem ser transpostas. E as principais têm a ver com a ideologia fascista de partidos, sindicatos, claques de futebol e outro tipo de organizações e associações, que devem ser reprimidas antes que o ovo por elas chocado possa resultar na serpente, que nos venha letalmente ameaçar...
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