As reações corporativas dos polícias tentaram minimizar os efeitos negativos da notícia sobre a bárbara agressão a uma cidadã da Amadora, mas elas só demonstraram como os sindicatos representativos dessa classe profissional estão dissonantes do sentimento de uma grande maioria dos portugueses. Porque de pouco lhes vale virem lamentarem-se por terem má imprensa e pior opinião pública se não sabem dissociar-se de quem age com uma agressividade tal que não se justifica olhar para os seus associados como honrados servidores do interesse coletivo, porque até são internamente elogiados pelos comportamentos próprios de hooligans, senão mesmo de biltres neonazis.
Por muito que Cláudia Simões tenha mordido quem a agredia ou procurava sufocar, nenhuma pessoa pode sujeitar-se tal selvageria apenas porque a filha de oito anos se esquecera do passe em casa. Se foi esse o motivo fútil, que esteve na origem da intervenção policial, qual a estratégia policial perante algo consensualmente aceite como um delito? Encostam o arguido à parede e fuzilam-no sem sequer o levarem a tribunal?
Nesse aspeto não é só o polícia, cujo rosto conhecemos de uma gravação colhida no momento da agressão, que está em causa. Estão-no também os colegas que vieram apoiá-lo no carro-patrulha onde terão ocorrido as mais violentas agressões e, sobretudo, o pouco falado motorista do autocarro da Vimeca, que esteve na origem do incidente. Os telejornais quase nada disseram sobre ele, mas a imprensa escrita deu conta dos insultos racistas com que invetivou a passageira e a entregou ao primeiro polícia que encontrou. Que se saiba a transportadora ainda não veio anunciar que o terá suspendido para que responda perante o mais do que justificado processo disciplinar.
Este episódio, que importa ser rapidamente esclarecido, não deve possibilitar quaisquer contemplações com quem esteve, direta ou indiretamente, envolvido nos efeitos da «queda» da referida cidadã. O Estado não pode ignorar que a sociedade portuguesa integra uma percentagem não negligenciável de grunhos racistas, que importa controlar e punir sempre que passem das palavras injuriosas aos atos assassinos. E se eles se acoitam nas polícias, repetindo-se suspeitas quanto à infiltração de gente de extrema-direita no seu seio, então o trabalho do ministro Eduardo Cabrita ganha uma acuidade que importa apoiar sem reservas...
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