domingo, 19 de janeiro de 2020

A derrota final e definitiva no horizonte de Rui Rio


Não faltam comentadores que hoje aventem a possibilidade de Rui Rio estar fadado a acumular sucessivas vitórias internas até à inevitável derrota final. Mas não se pressentiriam possibilidades mais risonhas para Luís Montenegro se tivesse sido ele o vencedor. Porque o problema maior das direitas portuguesas reside na incapacidade em vislumbrarem estratégias de futuro, presas que estão aos modelos de pensamento do passado.
Esgotada a ideologia democrata-cristã, que está em total divergência com as práticas do capitalismo puro e duro da financeirização vigente - e Andreotti em Itália representou o exemplo maior da adaptabilidade dessa corrente de pensamento à influência crescente das diversas mafias, sejam as relacionadas com o crime organizado, seja com a sua réplica no funcionamento dos bancos! - essas direitas estão condenadas a replicarem as formatações de efémero sucesso no passado, mas retumbantemente derrubadas tão-só demonstrados os becos para que arrastaram quantos lhes sofreram os efeitos. Daí que sobre a assombração fascista do Chega, a fúria privatizadora da Iniciativa Liberal ou as lógicas híbridas constatáveis nas diversas candidaturas às lideranças do CDS ou do PPD.
Se ponderarmos qual o pensamento político de Rui Rio não lhe vislumbramos uma fácil definição. À frente da Câmara do Porto foi um mero tecnocrata, que procurou gerir os recursos com alguma competência, mas tendo culturalmente uma ação devastadora, que a nada reduziu os apoios municipais à criação e aos espetáculos. E tomou decisões desastrosas como as relacionadas com os prédios do Bairro do Aleixo em que ficaram mal esclarecidas as verdadeiras motivações para expulsar a população aí residente numa zona potencialmente interessante para a especulação imobiliária.
Neste dia subsequente à vitória acreditará mesmo na capacidade para unir um partido completamente dividido em dois e em que não se descobrem virtualidades em qualquer desses campos desavindos? Os ressentimentos de parte a parte não tenderão a manter o atual clima de confronto entre quem anseia pelo tal pote, que adivinha cada vez mais distante? É que, ademais, António Costa não lhes promete alimentar as vãs esperanças: a governação competente do país vai prosseguindo e só os ideologicamente cegos teimarão em não reconhecer que a qualidade de vida tenderá a melhorar e as expetativas futuras serão mais animosas. O que, no fim de contas, propicia um clima eleitoral em que as direitas serão obrigadas a venderem a derrota o mais caro possível sem a poderem evitar...

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