terça-feira, 14 de janeiro de 2020

As ambíguas prioridades da Justiça no caso Tancos


O julgamento sobre o armamento furtado nos paióis de Tancos tem sido revelador sobre o estado da Justiça em Portugal, particularmente quanto à prioridade estabelecida pelo ministério público e pelo juiz Carlos Alexandre quanto à meteria de facto. Para o comum dos mortais o que deveria estar em questão era a autoria do planeamento e execução do roubo e ser esse o foco da investigação e condenação. De relevância menor seria a forma como a Polícia Judiciária Militar assegurou a recuperação desse armamento, dando prioridade a esse objetivo, mesmo que utilizando o diálogo com os culpados e a promessa do seu encobrimento como recurso decidido em cima do momento.
É claro que Joana Marques Vidal e os que ela comandava, com continuada intenção ideológica, decidiram virar a questão ao contrário, minimizando a importância do roubo e focalizando-se na estratégia, que pudesse pôr em causa o ministro da Defesa em particular, e o governo no seu todo. Em ano de eleições um caso desta natureza poderia ter o efeito produzido pelos que, a partir de 2013, com o caso Sócrates, garantiu a Passos Coelho um suficiente apoio eleitoral para alegar ter «ganho» as eleições.
Esse grupo que se tem servido do ministério público para combater o governo, de mãos dadas com o grupo Cofina, que lhe vai servindo de altifalante através dos seus pasquins  e canal televisivo, sabia que apostando na possibilidade de ver potenciada a narrativa em causa com algum grande incêndio durante o verão, alcançaria os seus objetivos.  Não o conseguiu, porque as equipas comandadas por Eduardo Cabrita no Ministério e na Proteção Civil lhes sonegaram as fúteis esperanças, mas poderemos sempre conjeturar até que ponto o massacre noticioso sobre o sucedido em Tancos não terá condicionado ainda assim a votação no Partido Socialista, diminuindo-a o suficiente para que não dessem o esforço como inglório.
Por ora passaram o testemunho a Carlos Alexandre na expetativa de o verem a agir de acordo com a sua própria agenda política que, no essencial, coincidirá com os seus propósitos. Por estes dias não faltam emproados farsantes dispostos a manterem em lume brando a questão de verem o poder executivo submetido ao judicial através da inaceitável exigência do testemunho presencial de António Costa no Tribunal de Monsanto. E quase não se ouvem as vozes de quem olha para a Constituição e constata que os três poderes nela consagrados são independentes entre si, não devendo haver de modo algum a submissão de um deles aos outros dois. Muito menos a juízes ou magistrados, que nunca se sujeitaram ao voto popular para exercerem as suas funções e dele recolherem a devida legitimidade...

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