quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Onde se fala de barões, de viscondes e de Nuno Crato


O perigo que pode pôr-se ao governo socialista, e às esquerdas em geral, é a possibilidade de se instalar uma forma de tédio, que leve os eleitores a alhearem-se da Política e a enredarem-se nos novos focos de alienação outrora simbolizados nos 3 F’s (Fátima, futebol e fado). Desses exclua-se o fado, que há muito deixou de ser o choradinho de tabernas e salões, desde que cantores da estirpe do agora retirado Carlos do Carmo lhe devolveram a merecida dignidade. Mas sobrou o hiperinflacionado futebol, que abre telejornais como se nada mais importante houvesse, a religião sempre empobrecedora na condição de ópio de quem nela anula a inteligência e acrescentem-se as redes sociais no que podem ter de difusoras de fake news ou manifestações de odiosos preconceitos.
A Política (sempre com maiúscula, quando distinta da outra, a «politiqueira») deveria estar presente nas atenções coletivas, tão omnipresente subjaz em tudo quanto fazemos ou pensamos. Ora, quando se vê um debate quinzenal como o de ontem em que António Costa está tão acima da qualidade de quem, à direita, afirma fazer-lhe oposição, é caso para temer o desinteresse de quem sabe invariável o resultado da pugna entre as diversas retóricas. Cada serôdia crítica ou provocação viu-se liminarmente ricocheteada de forma a deixar de rastos quem a ousou emitir.
Chega a consternar o papel a que se veem reduzidos Rio, Meireles ou os dois solitários representantes de partidos, cuja presença no hemiciclo demonstra como continua atual o provérbio dos tempos da monarquia em que, por mais que fugisse, um cão arriscava-se a ser barão ou visconde. Neste caso qualquer Cotrim ou Ventura, apesar de tão fracos talentos, julgam-se capacitados para o nobre exercício do cargo de deputado. E, a exemplo dos acácios do passado, até incham o peito por, do nada, terem chegado tão longe. Caberá perguntar: também serão da estirpe do outro, que telefonou para o papá quando o gasolineiro de Boliqueime o fez ministro? Convém anotar que, nesta altura em que sobra gente para em tudo acreditar - vide os estarolas hoje reunidos numa conferência internacional em Dallas, a discutirem a axiomática crença da platitude da Terra, da inexistência do Espaço e das conjuras da Nasa - estamos condenados a partilhar o ar que respiramos com gente que os leva a sério.
No caso de Rio e Meireles houve agitação em torno da questão de se chumbarem ou não os petizes mais cábulas ou manifestamente burros. Não terão sequer receio de tal hipótese ser aplicada com retroativos? A lucidez não lhes chegará para tanto, já que ficaram presos do fanatismo de Crato, que pouco faltou para impor exames nacionais aos pimpolhos dos infantários. Ignorantes quanto às melhores práticas aplicadas noutros países europeus - o caso paradigmático da Finlândia! - eles insistem no primado das avaliações sobre as políticas ativas junto dos alunos com maiores dificuldades. O que confirma tudo quanto deles pensamos...

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