sábado, 9 de novembro de 2019

O trabalho como dor e como criação


Em 1849, no texto intitulado  «Trabalho, Assalariado e Capital», Karl Marx definia o salário como a quantidade de dinheiro que o capitalista paga por um determinado tempo de trabalho ou por uma empreitada bem definida. E de que retira para si a mais-valia, ou seja a diferença entre o valor por que vende o que foi produzido durante esse período e o que por ele pagou a quem o aprontou.
A acumulação de capital dos donos dos meios de produção resulta sempre desse excedente produtivo.
Duzentos anos passados sobre o seu nascimento e cento e setenta sobre a publicação desse texto, as ideias de Marx continuam atuais por muito que, no último século, o tenham procurado denegrir a pretexto de se ter tornado obsoleto. Mas é inegável que, em cada crise, os detratores acabam por ter de tomá-lo como incontornável referência. Alguns dos termos por ele criados entraram no discurso comum com tal intensidade, que já nem sequer se lhes questiona o verdadeiro sentido. O Trabalho é um deles...
O homem trabalha desde os tempos imemoriais: desde o Paleolítico, o termo nunca deixou de evoluir. Hoje corresponde a realidades muito diversas. Segundo Marx o Trabalho é uma interação entre o homem e a natureza para concretizar um objetivo. Ao mesmo tempo é intelectual e físico, quer seja executado por um professor universitário, um camponês ou um operário numa cadeia de produção.
Refira-se, igualmente, que o termo vem do latim Tripalium, que tanto se referia a um instrumento para a labuta no campo como era instrumento de tortura, feito com três paus aguçados, onde os prisioneiros eram presos para melhor serem seviciados. Há também quem o associe ao parto, comportando ao mesmo tempo uma componente de dor e de criação.
Nos anos 80 do século transato houve uma reformulação do vocabulário nas empresas. Por exemplo o termo «operário» desapareceu em proveito de «operador», «condutor», de «colaborador», etc. Deixou-se de falar de qualificações para valorizar a «missão» ou as «competências». Erradicou-se o termo «coletivo», substituindo-o por área» ou «zona». Trouxeram-se do inglês expressões do tipo business to business, team building, que instituíram uma forma eficaz, mas assustadora de um colonialismo cultural e, sobretudo, de classe. O objetivo foi o de alterar na opinião pública o conceito que fazia do trabalhador. E com tal mudança criar as condições necessárias para garantir o sucesso das estratégias então implementadas para desequilibrar ainda mais a relação de forças entre quem acumula esses tais excedentes produtivos e os que de tais mais valias são espoliados. Sendo que uns constituem uma ínfima minoria numa sociedade maioritariamente formada por quem outra solução não tem senão a de se sujeitar a tal exploração.

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