domingo, 10 de novembro de 2019

A importância de entender a luta de classes


As notícias deste domingo não são particularmente agradáveis para quem se posiciona politicamente à esquerda: quer a demissão de Morales na Bolívia, quer os resultados da extrema-direita em Espanha demonstram a urgência de se gerirem estratégias políticas com muita atenção à composição social dos eleitorados. Estes não são um todo para que se deve emitir uma mensagem homogénea, porque está segmentado em diferentes classes, todas elas com valores, culturas e aspirações distintas.
Na Bolívia aconteceu algo de semelhante com o ocorrido no Brasil: um governo de esquerda implementou políticas, que garantiram melhores padrões de vida nos mais desfavorecidos, dando-lhes acesso a bens de consumo anteriormente só acessíveis às classes médias, e depressa isso não lhes bastou, passando a exigir mais e a manifestar absurdo ódio de estimação por quem os fizera sair da pobreza mais extrema. A queda do PT brasileiro foi prenunciada pelas chamadas Jornadas de junho de 2013, quando várias cidades ficaram a ferro e fogo por causa da atualização das tarifas dos transportes.  Seria irónico, se não fosse trágico, a constatação de muitos desses irados manifestantes, então a exigirem muito mais do governo do Dilma Roussef, depois entregues ao estúpido apoio ao jagunço  e hoje a viverem em condições muito piores.
O regresso de Carlos Mesa à presidência boliviana tenderá a repetir o desempenho anterior no cargo, quando não resistiu mais do que ano e meio à incapacidade para resistir à crescente pressão social. O pior, porém, será o regresso dos diplomatas norte-americanos a La Paz - e com eles o reforço da CIA, que dali nunca saiu -  para darem todo o apoio às privatizações de quanto Morales nacionalizou.
Em Espanha confirma-se o que já se vira em França, em Itália ou nos Estados Unidos: são os setores sociais mais desfavorecidos quem votam nas extremas-direitas. O que justifica o insulto emotivo de Hillary Clinton a esse sub-eleitorado («os deploráveis»), mas racionalmente a deverem ser abordados com o maior dos cuidados. Porque, se entre nós, será muito difícil contrariar o contínuo metralhar do «Correio da Manhã» e da TVI (tão-só detida pelo grupo Cofina) para promoverem o seu deputado preferencial, deve-se confrontar essas populações com quanto têm ganho com politicas de discriminação positiva a elas direcionadas - o aumento do salário mínimo, os passes sociais, a melhoria dos serviços públicos, etc. Um contínuo trabalho de rua por fazer em substituição dos Encontros e Conferências para quantos já estão convencidos da bondade das políticas a implementar. E, nesse sentido não devemos esquecer como o Nogueira do sindicato dos professores ou o Proença do dos médicos, andam manifestamente a servir de idiotas úteis para aqueles que vão engordando em votos na exata proporção em que o seu partido vai perdendo em deputados. Entre nós, o PCP e o Bloco ainda tardam em entender que, por exemplo em França, a ampliação eleitoral de Marine Le Pen resultou da esdrúxula transição  de quem antes votava comunista e passou a pôr a cruzinha nos criptofascistas. Será que ainda irão a tempo de compreender a evidência e agir em conformidade?

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