No dia de hoje, quem por mim procurar, de certeza que no consumo não me irá encontrar.
Quer isto dizer que bem podem os comerciantes acenar com descontos miraculosos e pagamentos a um, dois, três, até mesmo a quatro anos, que bem falam, mas não me embalam.
Não é apenas por levar muito a sério as palavras do ministro Matos Fernandes, que tanto irritaram os nossos comerciantes. O «expoente máximo do capitalismo», que denunciou, foi também ontem o eixo das afirmações da sua homóloga francesa sem que suscitasse a polémica aqui verificada. Pelo contrário, os comerciantes gauleses enfrentam uma grande concertação dos deputados, que pretendem proibir liminarmente o «Black Friday» por constituir «um modelo de consumo antiecológico».
Por muito que os ultraliberais do tipo Cotrim Figueiredo se indignem por criar-se uma cultura de privação da liberdade a quem queira comprar por cem, o que cem custava, mas onde atempadamente se mudaram as etiquetas para iludir só por duzentos anteriormente se adquirir, mandam as circunstâncias contrariar esses paladinos do mais radical capitalismo selvagem e até acantoná-los onde a sua virulência perca a capacidade de contaminar.
Hoje não é só a ONU ou a nova Comissão Europeia a fazer da emergência climática a prioridade quanto às políticas a aplicar. Se, entre nós, os campos secam, as albufeiras esvaziam e os incêndios de verão e de outono ganham dimensão incontrolável, é por se ter deixado o capitalismo alcançar uma capacidade de causar dano, que deveria ter sido travada muitos anos atrás. Só que, lamentavelmente, os que propunham um modelo económico alternativo também não se livravam da perspetiva de garantirem melhores padrões de vida e menores desigualdades à conta de exponenciais crescimentos económicos. E por isso secaram o mar de Aral prejudicando quem afirmavam querer ajudar...
Que a Terra não suporta mais essa lógica apocalítica, vão-no demonstrando o degelo dos glaciares, a redução do pack ice no Ártico, a ampliação dos desertos ou incêndios como os de Los Angeles ou da Austrália.
Temos de consumir menos e melhor. Há que acabar com a criminosa programação da obsolescência dos eletrodomésticos para obrigar à sua frequente substituição. O plástico deve ser erradicado das nossas cozinhas e das prateleiras dos hipermercados.
Em suma urge substituir esta nossa civilização do desperdício por uma outra, de utilização racional dos recursos tanto quanto possível renováveis ou recicláveis. O que significa conciliar o tal modelo alternativo por ser o único assente no planeamento das existências e da sua justa distribuição, com a consciência ecológica de se reduzirem as pegadas de tudo quanto possamos consumir.
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