terça-feira, 26 de novembro de 2019

A Língua como afirmação cultural, económica e diplomática


Ainda sou do tempo em que, aluno do liceu, tinha cinco anos de francês e apenas três de inglês. Na época muito mais facilmente acedíamos a livros e revistas oriundas do Hexágono do que das terras da sua majestade. Mas a decadência da língua francesa depressa se concretizou, em paralelo com a perda de influência dos seus governos nas políticas globais. E, hoje, quando falo com amigos que andam pelos quarentas, quase nenhum tem-na como ferramenta de comunicação.
A constatação ainda melhor se expressa no «Todas as Palavras» da RTP2, quando Ana Daniela Soares entrevista escritores francófonos e obriga-os a expressarem-se dificultosamente em mau inglês para nos darem a conhecer os seus livros, decerto melhor caracterizados no que versam se pudessem descrevê-los na sua língua natal (ai a falta que o Luís Caetano faz naquele programa!).
Melhor destino almejamos para a língua que é a nossa!
Vem isto a propósito da importância que o português deve assumir no contexto da política internacional. Por muito que os fanáticos do antigo Acordo Ortográfico intentem fazer regressar o tempo atrás, prevalece a visão de quem quis fazer da versão de 1990 uma estratégia de normalização da língua, que inclua todo o mundo lusófono e possibilite a afirmação da que é hoje a oficial para 260 milhões de pessoas, constitui a mais falada no hemisfério sul e alcançará um universo de 500 milhões a nela se expressarem no final do século.
A língua não vale apenas por si mesma. Tem potencial cultural, mas também económico e diplomático. E por isso não poupemos elogios a António Sampaio da Nóvoa que, enquanto embaixador na UNESCO, conseguiu que essa organização das Nações Unidas ratificasse 5 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa.
Para os saudosistas do antigo acordo o dia de ontem foi particularmente sombrio para as aspirações de fazerem o tempo recuar. Porque a sua visão diminutiva da língua fá-los parceiros de trincheira com Jair Bolsonaro que alimenta por essa versão ultrapassada o mesmo ódio de estimação. Que usufruam de tão problemática companhia enquanto podem...

Sem comentários:

Enviar um comentário