Há sábios, que nunca nos cansamos de ouvir, porque cada oportunidade de voltarmos a contactar com o muito que nos têm a transmitir, dão-nos a sensação de enriquecermos um pouco mais, de ganharmos múltiplas pistas para tentarmos vencer a incultura, que não adivinhávamos tão grande. Porque atendo-nos à definição de Cultura por Millor Fernandes ela é “aquilo que amplia a nossa ignorância.”
Numa conferência subordinada ao tema "Projetar Portugal - Quem decide sobre as nossas vidas?", o professor Sampaio da Nóvoa lembrou aquela frase de 2008 sobre existirem bancos demasiado grandes para que pudessem falir. Afinal o Lehman Brothers demonstraria o contrário. Por isso, e tendo em conta nada existir de tão grande, que possa obstar a que o discutamos, esteve em causa a forma de superar a alienação (conceito tão importante dos anos 70 e que valeria a pena ressuscitar!) contraída das redes sociais e não só, que tendem a confundir-nos das questões essenciais, causando um tal ruído que nos distraímos facilmente com questões comezinhas sem nos pensarmos, nem reinventarmos. Porque esse é o grande problema com que nos defrontamos: numa época em que o capitalismo está no seu crepúsculo e o emprego tende a tornar-se em algo de raro, poderemos conformarmo-nos com o revoltante crescimento das desigualdades e com os vários níveis de precariedade vividos pelos mais novos?
Como se se tratasse de uma sonata em três andamentos a conferência evoluiu da impossibilidade de voltarmos para trás no tempo - como certas direitas e certas esquerdas desejam em vão! -, e encontrarmos respostas para ganharmos os desafios do futuro. O que só pode acontecer com uma aposta decidida no conhecimento, ou nos conhecimentos, porque tanto importam os já testados por múltiplas experiências, como os nunca ensaiados e apenas figurando como hipóteses.
Ao contrário do que costumamos pensar, não faltam aos jovens informações nem competências, que possam oferecer para a criação de uma sociedade mais avançada. Segundo o Prof. Sampaio da Nóvoa há algo que lembra a ficção científica na forma como gerações distintas ocupam o mesmo lugar e não conseguem comunicar umas com as outras. Como se estivessem noutras dimensões, noutros vetores da conjunção espaço-tempo. Um dos motivos do aparente impasse em que nos encontramos tem a ver com essa difícil interação,
Outro problema tem a ver com o que se passa nas Universidades, que perderam a função de investigarem e produzirem saberes inovadores, cristalizadas em metodologias ultrapassadas e inibidoras da inovação, do arriscar direções ainda não trilhadas por mais ninguém.
Na conclusão da sua apresentação-ensaio, o orador lembrou um pequeno texto sobre o encontro de um Jorge Luís Borges quase cego com as pirâmides do Egipto: “A uns trezentos ou quatrocentos metros da Pirâmide inclinei-me, peguei num punhado de areia, deixei-o cair silenciosamente um pouco mais adiante e disse em voz baixa: Estou a modificar o Saara. O ato era insignificante, mas as palavras nada engenhosas eram justas e pensei que fora necessária toda a minha vida para que eu pudesse pronunciá-las.”
É com essa ousadia em transformar o deserto, e ao mesmo tempo com a humildade de nos sabermos capazes de mudar apenas um punhado de areia, que nos devemos situar em relação ao futuro. Fazendo todos os possíveis por o discutir, sobre o questionar sempre que para tal tivermos possibilidades. E esse é o melhor desafio, que o prof. Sampaio da Nóvoa nos veio lançar.
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