Começo por dizer que não sou simpatizante nem sócio do Sporting, e tudo quanto se passa com esse clube, ou qualquer outro, me é absolutamente indiferente.
Imaginemos então que para as próximas eleições, definidoras da escolha entre Bruno de Carvalho e Madeira Rodrigues, existiria a novidade de não serem só os associados do clube a definirem o vencedor, mas os que, mediante uma quota momentânea, se candidatassem a participar no processo.
Como não conheço a bondade das propostas de um ou de outro, continuemos a imaginar que as de um são consensualmente muito boas e capazes de tornarem o Sporting particularmente competitivo, e as de outro bastante más e previsivelmente tendentes a manterem o clube longe dos títulos.
Não é difícil, então, imaginar que a paixão clubística existente no país, levasse muitos benfiquistas e portistas a organizarem-se para irem massivamente votar no candidato, que melhor conviesse ao sucesso dos respetivos clubes.
É com esta analogia, que quero demonstrar a razão fundamental porque, ao contrário de Ana Catarina Mendes, sou absolutamente contra as primárias dentro dos partidos, por muito que elas deem às vezes resultados acertados - António Costa em 2014 ou Benoît Hamon recentemente em França. Em contraponto, contra o mais centrista Juppé, a direita “elegeu” Fillon, que, provavelmente, se demitirá do combate esta tarde tão óbvio se tornou o seu perfil corrupto, na Inglaterra o Brexit prevaleceu sobre a vontade dos londrinos, escoceses e irlandeses ou Trump ganhou nos Estados Unidos.
Lembremos, igualmente, que a decisão de António José Seguro em promover as primárias, quando era secretário-geral, teve a ver com o cálculo furado de julgar assim mais facilitado o desafio posto por António Costa à sua liderança. O challenger não revelou, então, qualquer entusiasmo pelo processo, embora a ele se sujeitasse como recurso possível para corrigir a rota do Partido.
Neste tem o dever e o direito de eleger os dirigentes quem, efetivamente nele milita. E o argumento de abertura do Partido à sociedade é falso, porque, a exemplo do país, a Democracia de uma organização não se mede pela disponibilidade para dar ensejo de votar de x em x anos, mas em estimular os cidadãos à participação na sua vida interna.
Nesse sentido a secretária-geral adjunta do PS ilude-se quando afirma terem sido essas primárias de 2014 “positivas para a dinamização do PS e para o contacto dos cidadãos com os partidos políticos. Essas primárias engrandeceram a democracia”. O que então aconteceu foi a evidência para milhares de pessoas que, se não se mobilizassem nesse momento único, o país estaria condenado a suportar as malfeitorias de Passos Coelho a quem Seguro fazia uma oposição mais aparente do que real.
Conseguido o objetivo esses cidadãos, ou entraram como militantes para o Partido e passaram a participar nos seus processos de decisão - pessoalmente assinei umas quantas fichas de adesão para o efeito! - ou contentaram-se com a confirmação de uma viragem política com que se identificam como o confirmam as sondagens.
São, pois, vãs as ilusões de Ana Catarina, ou as menos desinteressadas propostas de Daniel Adrião, que quis levar a Congresso algo de parecido. A aproximação do Partido dos cidadãos faz-se através do combate ao caciquismo interno, que a direção do PS tarda em tomar como se viu com a forma como se definiram candidatos em vários concelhos do país e de que o Seixal foi exemplo lapidar. Investigar as acusações de desvios democráticos internos, que só desprestigiam o Partido e escusando-se a ouvir os militantes quanto às razões fundamentadas de queixa contra tais caciques, é o primeiro passo para que essa distância se cave entre eleitores e candidatos às eleições.
Mas a aproximação também passa por trabalho político permanente com discussão de propostas locais, que sejam depois partilhadas com as populações em mercados e estações fluviais ou ferroviárias, onde essa presença se torne regular e propiciadora de um contacto capaz de estimular cada vez mais pessoas a virem dar o seu contributo para a cidadania através da participação ativa na vida partidária.
Aproximar dos eleitores é, também ter políticas bem definidas, que os orientem para possibilidades de alcançar objetivos mais avançados na luta contra as desigualdades e as injustiças. O contrário afinal do que anda a fazer Assunção Cristas que, à falta de ideias, pede aos lisboetas, que partilhem com ela as suas e os vai querendo convencer de ser-lhes próxima ao mostrar-se apreciadora dos seus cantores pimbas.
No fundo quem defende as Primárias é porque não percebe o essencial da Democracia: que é um processo de escolha entre quem efetivamente pertence ao universo de que se querem definir os futuros.
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