Embora possa haver quem julgue ter sido Karl Marx o criador do socialismo e do comunismo, a verdade é que esses conceitos já existiam antes dele os ter reformulado, e continuariam a ter vida própria se ele nunca houvesse aparecido. E, convenhamos, que isso até teria sido muito possível, pois dos oito irmãos de Karl, apenas três chegaram aos 25 anos.
Com «O Capital» e outros textos de referência para a futura luta dos povos pela sua emancipação, Marx é só o mais importante de um grupo significativo de historiadores e filósofos de que Michelet fora um dos pioneiros, e Lenine viria a ser quem de tais contributos faria a mais consistente síntese.
São essas as conclusões principais da biografia de Gareth Stedman Jones, publicada pela Harvard University Press, e que adota uma perspetiva com a qual estou em total desacordo: a de situar historicamente no seu tempo, e nele compreender o seu pensamento, sem lhe reconhecer qualquer pertinência na definição do nosso futuro. A exemplo de outros esquerdistas, que se reciclaram em autores de reflexões teóricas muito conservadoras, Jones já se considera distante do tempo em que se considerava socialista revolucionário. E, no entanto, a abordagem da vida de Marx até é feita de forma equilibrada, permitindo-nos aceder a informações pouco conhecidas.
Comecemos pelo nascimento, ocorrido em 5 de maio de 1818 em Trier, cidade da Renãnia alemã, onde o pai convertera-se ao dominante catolicismo como forma de lhe ser permitido o exercício da advocacia. Razão para ter mudado o nome próprio do comprometedor Herschel para Heinrich.
Contratado como jurista no tribunal local, ele garante à família uma qualidade de vida bastante confortável. O jovem Karl viveu nesse contexto burguês e julgou-se talhado para a poesia.
Aos dezoito anos ei-lo tomado de paixão assolapada por uma jovem quatro anos mais velha, Jenny von Westphalen, que lhe retribuiu o afeto, mas não teve autorização para se mostrar recetiva ao noivado com quem não se lhe equiparava no estatuto social. Tiveram por isso de esperar sete anos para que o pai dela morresse e ficassee assim removido um incontornável obstáculo à felicidade de ambos. Não adivinhariam as muitas dificuldades e doenças que os esperariam e, sobretudo, o desgosto pela morte de vários filhos.
Por essa altura, Marx ainda não era o agitador político, nem mesmo o escritor arguto de teses revolucionárias. Enquanto frequentou a Universidade de Bona preferiu dedicar-se à boémia e aos duelos. A mudança verificar-se-ia com a sua transferência para a universidade de Berlim.
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