1. Passado este fim-de-semana em que a luta política amainou por conta do futebol, importa constatar o subterfúgio utilizado pelas direitas para manterem em lume brando uma fogueira onde sentem a progressiva falta de lenha. Com Marcelo e Costa a darem o assunto da Caixa Geral de Depósitos por encerrado, com as esquerdas unidas na decisão quanto à dispensabilidade de uma nova comissão de inquérito, que assunto pode ser agarrado para distrair o país dos excelentes resultados da economia? Défice abaixo de 2,1%, crescimento de 1,9% no último trimestre, criação líquida de empregos, aumento das exportações, investimento a subir.
Admita-se que, na Lapa e no Caldas, os mais imaginativos dos seus inquilinos andarão com a cabeça à volta para criar o «facto alternativo» seguinte. Buscaram-no no desaparecimento das pistolas na PSP, mas o assunto tem pouco glamour para merecer a atenção de quem pretendem captar. E o pior vem aí a seguir: os indicadores do primeiro trimestre de 2017 deverão prosseguir na mesma ordem de tendências.
Que dirão então os arautos das direitas? Que o país está com menos turistas em fevereiro do que em julho ou agosto? Ou que a canção portuguesa terá repetido classificação miserável na Eurovisão?
Pessoalmente sinto-me curioso quanto ao resultado das efabulações dessa gente!
2. Há dois factos, que têm andado nas entrelinhas das notícias e julgo não estarem a ser devidamente compreendidos pelo grande público: o primeiro tem a ver com a demissão de Matos Correia da presidência da Comissão Parlamentar que dirigia. Ora o que motiva essa atitude é a negação dos partidos das esquerdas em acederem à exigência de documentos privados, constitucionalmente protegidos como tal, e que se referem a atos relacionados com a Caixa em … 2016.
Ora Matos Correia deveria saber que a sua Comissão foi formada para analisar o sucedido nesse banco público entre 2000 e … 2015!
Como alertava Carlos César, ele parecia desconhecer o âmbito do que lhe incumbia dirigir.
O outro facto tem a ver com a exigência de Passos Coelho exigir para os administradores da CGD um vencimento máximo correspondente a uma percentagem do do primeiro-ministro.
A tal ser aprovado, e sendo impossível tal pressuposto ter aceitação do BCE, que hoje superintende todas as instituições bancárias europeias, Passos conseguia maquiavelicamente o objetivo de a privatizar, pois, só dessa forma se contornaria essa limitação: a CGD deixaria de ser pública, não porque esse seria o que o interesse do país (que o não é!), mas porque só dessa forma os administradores poderiam ser remunerados de acordo com as regras europeias.
3. A vinda de Benoît Hamon a Lisboa para aprender as virtualidades da maioria das esquerdas é um prenúncio do que não tardará a produzir-se: a assumpção de mais líderes da esquerda europeia quanto ao modelo português de demonstrar os méritos desta alternativa ao austericídio.
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