A continuação da novela em torno do que foram, ou não, os compromissos de Mário Centeno com António Domingues e as reações que dela advieram desde a conferência de imprensa de ontem à tarde, justificam-me três comentários:
1. Como tenho reiteradamente dito, e repetido neste blogue, sinto uma enorme estranheza por quem, sendo socialista, comunista, bloquista ou verde tem visto com bastante complacência o comportamento de Marcelo Rebelo de Sousa ao longo deste ano de mandato.
Posso ser visto como um incorrigível teimoso mas nem votei nele, nem nele alguma vez confiarei: como nos avisa a fábula, um escorpião será sempre um escorpião, que age de acordo com a sua natureza, mesmo quando quem aceitou transportá-lo no dorso se deixou cativar pelas suas melodiosas palavras ou pelas selfies com ele tiradas.
A declaração da presidência da República, na sequência da conversa de Centeno com os jornalistas serviu para atirar um fósforo para um palheiro. Se não quis ser incendiário, não deixou de o parecer!
As esquerdas que não se cuidem, se insistem em julga-lo, se não um aliado, pelo menos neutro quanto à disputa política dos próximos anos!
2. Toda a campanha contra Centeno tem subjacente as sondagens divulgadas na semana passada, mas, sobretudo, os excelentes indicadores sobre o rumo da economia de acordo com o que vem sendo publicado pelo INE. E, naturalmente, as reações positivas do comissário Moscovici e de instituições internacionais, incluindo as agências de notação, que, não querendo dar já o braço a torcer, vêm reconhecendo sinais de clara recuperação no crescimento do PIB, na redução do desemprego e na dinâmica crescente do investimento.
As direitas sabem-se à beira de um limiar em que ficarão com argumentos cada vez mais pífios para criticar uma solução governativa, que funciona. Se. como o próprio Centeno considera possível, o desemprego tender a reduzir-se para menos dos 10%, o crescimento a evoluir e a ultrapassar as previsões mais cautelosas do governo e os fundos estruturais potenciarem investimentos determinantes para a requalificação do nosso tecido produtivo, com que cara conseguem ir Passos Coelho e Assunção Cristas às próximas eleições legislativas? Se o pleno das direitas está atualmente em mínimos históricos para que irrelevante dimensão minguarão?
A única possibilidade de travarem esse previsível definhamento residirá em recorrerem intensivamente à intriga, à coscuvilhice, à mentira descarada, à criação de “factos” a partir do nada. E é isso que visam com a tentativa de derrubarem o principal arquiteto dos excelentes resultados recém-conhecidos, e é o que procurarão através da contínua aposta na divisão entre as esquerdas nos próximos meses, tendo em conta o potencial de divergências nas vésperas das eleições autárquicas.
Façamos votos que, socialistas, comunistas, bloquistas e verdes ajam com lucidez e inteligência desarmando com cautelas o terreno minado em que as direitas os querem ver progredir. A maioria dos portugueses agradece-lhes que não deixem rebentar nenhuma bomba!
3. Disse-o aqui há dias e volto a repeti-lo: isto está mesmo a pedir uma grande manifestação nas principais cidades do país. Sob que palavra-de-ordem? «Contra as tentativas da direita para destruir a CGD». Quem é que poderá estar em desacordo com uma mobilização à pala desse objetivo?
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