1. De manhã, antes que a chuva voltasse, fui num salto à rua para comprar o «Expresso». Tão só regressado, liguei a televisão e apanhei Passos Coelho a dizer barbaridades ainda mais repulsivas do que as do costume. Por um lado acusou o governo de nada ter feito em prol da Caixa Geral de Depósitos durante um ano, como se tivesse sido sua a negociação com as instituições europeias quanto à recapitalização, que, pelo contrário, sempre asseverara impossível de alcançar. Depois, foi capaz de dizer sem se rir, que a «equipa-maravilha» (sic) no Ministério das Finanças, tinha falhado em todas as suas previsões. Como se conseguir um défice abaixo de 2,4% fosse coisa pouca, ademais sem nunca recorrer aos orçamentos retificativos, que ele e Maria Luís nunca tinham conseguido dispensar.
Já não se trata de distorcer a realidade, mas de pura desfaçatez no recurso permanente à mentira como estratégia da retórica política.
Será que Passos Coelho se julga capaz de igualar Trump na capacidade de convencer os indefetíveis quanto à consistência dos seus argumentos? Se assim for está bem enganado: é que, se no ainda inquilino da Casa Branca há um crescente número de observadores a explicarem-lhe o comportamento em função de distúrbios mentais, mais tarde ou mais cedo, justificativos do «impeachment» e do definitivo internamento num hospital para loucos furiosos, em Passos Coelho não se lhe dá a complacência de tal juízo. É apenas um futuro desempregado da política e dos negócios, que se agarra a qualquer prancha disponível para evitar o afogamento depois do naufrágio, que terá para ele representado o sucesso do atual governo.
2. Outra notícia colhida no mesmo canal foi a pretensão de quem explora a central de Almaraz em mantê-la ativa durante mais uns anos, de forma a alcançar sessenta anos de funcionamento. Esse é o novo objetivo dos que têm feito do nuclear um negócio chorudo, mesmo com o prejuízo da ameaça à vida e às populações a viverem em seu torno. Mas, se por agora falam dessa extensão de validade como limite para iniciarem enfim a sua definitiva paragem, existem motivos para crer que, daqui a mais uns anos, os veremos a solicitarem a autorização para continuarem essa atividade até ela se ver comprometida por uma definitiva ... explosão.
3. Durante o dia as televisões também trouxeram Cavaco Silva à colação por causa do livro anunciado para a próxima semana.
Os melhores comentários sobre o regresso de tal zombie, li-os no twitter, onde há quem anuncie a intenção de comprar o livro se souber que nele fica explicado como se pode vir a ser proprietário de uma vistosa moradia algarvia sem gastar um chavo.
Mais a sério não espanta que as direitas e os seus altifalantes promovam o regresso da criatura: desgostados com Marcelo por não lhes fazer as vontades, e tendo a oportunidade de continuarem a fazer de Sócrates o bombo da festa, tudo lhes serve para garantirem tempo de antena a quem se justificaria o anonimato condizente com os seus comprovados deméritos.
É que a História portuguesa desta época reterá a personalidade de Mário Soares como um dos «pais» da democracia e pela ambiciosa política de adesão à CEE. Em contraponto com ele que tem Cavaco para ter direito nem sequer a uma notinha de rodapé em letra minúscula? A destruição de setores inteiros da nossa economia? A entrega a privados de tudo quanto lhes garantisse lucro e futuros empregos para os amigos? Ou sucessivos episódios reveladores da sua mesquinhez e perfídia?
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