quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Uma tática velha que vai-se desgastando

 

Eis a direita no seu esplendor a fazer aquilo que sempre faz, quando não tem outra estratégia política para se afirmar: exigir a demissão de um ministro por algo que ele decididamente não fez. E porque foi bem sucedida com Constança Urbano de Sousa depois dos incêndios de 2017 e com Azeredo Lopes por causa do roubo das armas de Tancos, quer manifestamente cumprir a regra de não existirem duas sem três atirando-se às canelas de Eduardo Cabrita.

O ministro é um dos ódios de estimação das direitas, que se sabem sempre incapazes de vencerem um debate com ele. Porque os fundamentos de contestação ao que lhe apontam são sempre tão sólidos que ficam em palpos de aranha, puxando pelo pano, a ver se ele lhes traz algo mais com que o confrontem. Vê-lo pelas costas dar-lhes-ia imenso jeito tanto mais que ele tutela as polícias onde as infiltrações dessas mesmas direitas e, sobretudo das extremas-direitas - com o “clandestino” Movimento Zero -, são notórias.

Para quem sempre tem admirado a ação do ministro como é o meu caso tem-me surpreendido o facto de estar a ser morosa de mais a limpeza, que as várias polícias justificam, imitando o que a Alemanha de Merkel tem vindo a fazer nos meses mais recentes relativamente a problemas semelhantes. Mas adivinho em Eduardo Cabrita o comportamento prudente de quem quer sentir-se em terreno suficientemente sólido para dele dar a cutilada, que esses infiltrados merecem.

Exigir-lhe responsabilidades políticas a propósito de um crime que se circunscreveu a uns assassinos acoitados no Serviço de Fronteiras do Aeroporto de Lisboa é mais um exercício de desonestidade política dessas mesmas direitas, com o Bloco a dar uma significativa ajuda e a confirmar como as afinidades eletivas dos dois lados extremos das bancadas particulares se estão a aprofundar.

Estou convicto de que na terça-feira, quando for ao Parlamento para ser ouvido sobre o caso, os deputados irão debater-se com alguém bastante diferente dos dois ministros, que as direitas conseguiram derrubar com o seu costumado oportunismo tático. Eduardo Cabrita não tem a fragilidade emocional de Constança nem a atrapalhação fácil de Azeredo Lopes. Podem por isso ficar sentados quanto à hipótese de o removerem do governo. 

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