segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Uma cilada em vias de ser neutralizada

 

Sentindo o tapete e fugir-lhe debaixo dos pés Marcelo Rebelo de Sousa já sacudiu a água do capote como se não fosse nada com ele. Abandonou sem pudor o diretor nacional da PSP, que se deslumbrara com o seu convite e viera todo pimpão contar o que tinham falado!

Não é a primeira vez que Marcelo Rebelo de Sousa vai à tosquia e acaba tosquiado, mas convenhamos que, desta vez, arriscou demasiado e saiu a perder: quando viu a SIC fustigar Eduardo Cabrita e as redes sociais agirem como turba desvairada pronta a linchar quem lhe davam como principal culpado do crime cometido contra Ihor Hemniuk, ele anteviu a possibilidade de sacudir de vez a água do capote - que já o começava a encharcar ao denunciar-se o nunca ter contactado a viúva do ucraniano! - e atribui-la exclusivamente ao ministro..

Marcelo terá pensado que não haveria duas sem três e se as habilidades lhe tinham corrido de feição, quando Constança Urbano de Sousa e Azeredo Lopes saíram do governo, não viu razões para o mesmo não se passar com Eduardo Cabrita.

O que Marcelo fez foi inaceitável: se pretendia saber como estava a preparar-se a reestruturação do SEF só tinha de perguntar ao primeiro-ministro, que é quem a comanda. Porque decidiu desrespeitar as hierarquias e chamar o diretor nacional da PSP? E como é possível que, deslumbrado com a deferência, Magina da Silva logo anunciasse a fusão das duas polícias?

Foi esse o momento em que as coisas começaram a correr mal para Marcelo forçado a concluir que, apesar da campanha mediática da SIC contra Eduardo Cabrita, ele está de pedra e cal no governo. Isso foi óbvio quando foi o ministro quem veio tirar o tapete ao apressado altifalante de quanto falara com o presidente! Não sei quanto tempo ficará Magina da Silva no seu posto, mas o seu mea culpa  às onze da noite já só lhe deve ter aliviado o nó que sentiu em torno do pescoço. O que vier a acontecer com o SEF caberá exclusivamente ao governo e ponto final. Se algumas cabeças imediatamente pensaram que Marcelo dera ordem a António Costa para demitir Cabrita e substitui-lo por tão prestável convidado, depressa tiveram de concluir o óbvio: o governo é quem governa, Marcelo existe para assinar os diplomas emanados dos outros órgãos de soberania e gastar o resto do tempo em selfies  e abraços, quando os puder voltar a dar.

O episódio serviu, igualmente, de teste de forças entre Presidente e Primeiro-ministro: nos anos vindouros em que terão de coexistir, Marcelo sempre tentará interferir nas competências de António Costa e este imporá a firme delimitação da fronteira tal qual a prevê a Constituição. E convenhamos que, se um é arguto nas intrigas e manipulações, o outro conhece bem demais com quem se defronta para permitir-lhe o ascendente que significaria a facilitação do acesso das direitas ao poder.

Acrescente-se que, mesmo perdurando mais uns dias, a campanha contra Eduardo Cabrita tenderá a morrer por exaustão: é que afinal ele enviara atempadamente condolências à viúva (faltando saber se é esta quem mente ou se foi a embaixada ucraniana em Lisboa a não lhas transmitir) e ordenara imediata investigação ao que se passara no aeroporto de Lisboa.  E quanto à muito propalada indemnização, que não foi atribuída à família do morto há algo que ainda não ouvi ser aventado: porque serei eu e todos os contribuintes a pagá-la quando os responsáveis por tal indemnização serão os assassinos tão-só os tribunais os dêem como culpados? Não é isso que se passa normalmente no nosso sistema judicial: atribuírem-se indemnizações às vítimas ou as suas famílias quando o julgamento chega ao fim?

E, a concluir, uma nota final: ao contrário do que a campanha da SIC procura vender aos seus espectadores não foram os seus jornalistas quem descobriram a pólvora! Ao longo destes meses Fernanda Câncio no «Diário de Notícias» ou Joana Gorjão Henriques no «Público» tentaram contrariar a cortina de silêncio que rodeou o caso. Porque, como Eduardo Cabrita disse com inteira justiça não foi ele quem andou distraído quanto à defesa dos Direitos Humanos. Nem tão pouco essas duas jornalistas. Mas, criando uma campanha indecente, a estação da família Balsemão através das suas marionetas capitaneadas por Ricardo Costa, quiseram construir um caso, afinal bem diferente por nunca ter deixado de estar em desenvolvimento por quem compete investiga-lo e resolvê-lo!

Em oportunismo esta campanha serviu para melhor desmascarar as estratégias de Marcelo Rebelo de Sousa e das televisões a mando de quem delas é dono! 

8 comentários:

  1. Esqueceu de acrescentar que o Costa e toda a ala centro-direita, social-liberal, do PS apoiam o "Celinho" na candidatura presidencial. São masoquistas?

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  2. Pois lá isso é e vá se lá saber porquê estrá tudo no segredo dos capangas

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  3. Não há crise. À directora do SEF, já lhe foi arranjado um novo tacho. P ministro da administração interna, eduardo cabrã... desculpe, cabrita (com letra pequena de propósito), mantém-se de pedra e cal, apesar das golas e das cabras sapadoras. O Marcelinho táki táli tákulá, vai sorrateiramente passando pelos intervalos da chuva e impávido e sereno, prepara-se para uma nova série de selfies, tascas, copitos e pastéis de nata. Que mais estará para acontecer neste país à beira-mar plantado e tão mal frequentado?

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  4. Deste magnifico texto destaco em especial a seguinte frase: "Marcelo existe para assinar os diplomas emanados dos outros órgãos de soberania e gastar o resto do tempo em selfies e abraços, quando os puder voltar a dar". De facto é assim mesmo que ele sobrevive e se mantém à tona dos destinos da Nação, a que de resto ele pouca atenção dá....

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  5. Atitude deplorável de Marcelo. Magina foi simplesmente ingénuo.

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  6. MRS não estaria apenas a sondar o Diretor Geral da PSP e ele veio logo botar faladura para a CS? Para o DG da PSP parece que a GNR não conta nem outras forças de segurança. Para mim o DG da PSP limpou o cu antes de cagar.

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