sábado, 5 de dezembro de 2020

Há por aí tantos a ver o mar mais alto do que a terra!

 

Este tempo de pandemia tem sido pródigo na revelação do comportamento de muita gente agindo como aqueles que sempre temem ver o mar mais alto do que a terra. Sabe-se que, com raras exceções, isso nunca sucede, mas avultam os timoratos, ora por ser essa a conduta inerente à sua índole, ora por se inscreverem no número dos que buscam dividendos políticos à conta da regra do quanto pior melhor.

Primeiro dizia-se que a vacina iria demorar, pelo menos, dois anos a ser produzida. Conclui-se que, ao fim de dez meses, ela já está a sair das linhas de produção das farmacêuticas. Sobretudo, porque aos receios de não sobrarem verbas suficientes para tanta investigação, logo corresponderam quase todos os países que puderam e compraram antecipadamente sete mil milhões de doses de vacinas, ou seja quase tantas quantos humanos vivem neste planeta até ver azul.

Agora há quem por cá tenha abandonado a ladainha quanto à falta de um Plano Nacional de Vacinação - surgido a mais do que  a tempo e horas! - para dizer insuficiente a logística prevista para o levar a eito. E, no entanto, até a enfermeira cavaca reconhece exequível a administração das 400 mil doses da primeira fase nos sete a dez dias previstos. Mas não sem deixar de exigir mais enfermeiros e locais para administrar as vacinas, deixando implícita a sugestão sempre subjacente ao que diz Marcelo Rebelo de Sousa quando se pronuncia sobre as questões da saúde: que se deve garantir um bom negócio aos privados do setor.

Variante desse tipo de implícitas críticas ao governo é a de considerar exagerada a duração do plano por só para o início do verão contemplar a abrangência a todos quantos dele queiram aproveitar. Mas não só o governo não pode ser tido nem achado para o ritmo da vacinação - tudo dependerá daquele com que as farmacêuticas concretizem a entrega total das encomendas! - como é muito provável que se repita aquele erro de previsão inicial quanto à demora no surgimento de uma vacina: eram dois anos que se reduziram a dez meses. Pois sabe-se lá quanto se abreviará o cumprimento das três fases que, no final, garantirá a efetiva imunidade de toda a população europeia?

A verdade é termos de conviver com quem tem vocação para sempre ligar o complicómetro, desde empresários da restauração donos de ferraris e iates, que se prestam a folclórica reivindicação e dela desistem, quando o São Pedro mascarado de depressão Dora lhes ameaça encharcar-lhes as mentes até esses partidos que votam contra estados de emergência, que a maioria dos portugueses cumpre sem engulhos e até apoia como imprescindíveis para não acontecer o que Jorge Almeida Fernandes hoje aborda numa crónica do «Público»: que estupidamente se morra de covid quando a praia já está ali à vista!

Sem comentários:

Enviar um comentário