Quem não se lembra de Mohammed Saeed al-Sahaf? Já passaram uns anos e ainda nos recordamos como o ministro de Saddam Hussein anunciava vitórias retumbantes contra os invasores prestes a entrarem em Bagdad.
Mas se nessa altura nos rimos de quem tão grosseiramente confundia os sonhos com a realidade, já só podemos sentir inquietação perante os sucessivos discursos de Vítor Gaspar, quando manipula os indicadores económicos de forma a parecer que os tormentos atuais estão quase a acabar e nos esperam dias radiosos de emprego farto e remunerações de níveis europeus.
As repetidas declarações do Ministro das Finanças revelam uma de duas possibilidades: ou uma mentira descarada, que a realidade acabará infelizmente por evidenciar; ou um estado de negação psicologicamente alarmante por atingir quem deveria conduzir lucidamente as estratégias políticas do país.
Aonde Ali o Cómico suscitava a ideia de nos depararmos com uma farsa, Gaspar parece levar-nos para uma dolorosa tragédia.
Só um urubu do calibre de Medina Carreira é capaz de ainda vir hoje para os jornais aprovar esta teimosa aposta na austeridade e verberar o secretário-geral socialista por repetir o que já Krugman e Stieglitz diziam há muito, e agora é corroborado pelo FMI, pelo BCE e por um número crescente de políticos e economistas europeus e norte-americanos: a receita neoliberal já demonstrou o seu irreversível falhanço e a redenção passa obrigatoriamente por estratégias de crescimento desenvolvidas consensualmente por toda a União Europeia.
Felizmente que o debate desta noite entre Hollande e Sarkozy contribuiu para a vitória do primeiro nas eleições de domingo. E que esse acontecimento corresponderá a um momento de viragem das atuais tendências. Mas isso só significa a importância de militarmos ativamente pela rápida expulsão de Passos & Cª para o caixote do lixo da História que, devemos acautelar, tenha uma tampa hermética donde eles não consigam voltar a emergir...
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