Há muitas formas de pegar na comemoração do 5 de outubro. A mais óbvia é ouvir o que Marcelo disse e compreender, nas entrelinhas, que já nem ele está minimamente preocupado com a questão do orçamento para 2021. Com votos a favor dos partidos da esquerda, ou a sua abstenção, António Costa incumbir-se-á de liderar o processo de recuperação das crises sociais e económicas por que o país está a passar devido à pandemia. E por muito que haja gente a fazer campanha a propósito do merecido afastamento de quem andava a liderar órgãos do Estado com a mesma sanha dos bastonários dos médicos ou dos enfermeiros para, do alto do poleiro, criar teorias conspirativas contra o governo, Costa vai cuidando de lhes dar o merecido descanso no anonimato donde nunca mereciam ter saído. A Procuradoria deixou de ser a da Joana, assim como o Tribunal de Contas ficou liberto de um Vítor, que irá caldeirar para onde a sua nocividade se torne irrelevante.
É claro que as direitas tentarão armar bulha com estas histórias, ademais apimentadas com uma sucessora do sacristão Paulo Morais, que leu as charlas do João Miguel Tavares na última página do «Público» e veio armar-se ao pingarelho sob a égide de uma suposta Transparência e Integridade, que ninguém a mandatou para ser a suposta defensora. Mas a imprensa, que tanto busca a zizânia à conta das não reconduções de quem tantos jeitos fazia às direitas, nunca se indignou com as nomeações feitas no tempo de Cavaco ou de Passos Coelho para encher o topo das instituições do Estado com quem lhes era afeto. Pelo contrário se as esquerdas fazem a devida barrela e nomeiam quem lhes dá maiores garantias de não causarem obstáculos, aqui d’el-rei que não teriam legitimidade para tal. Que o têm assim o demonstram as decisões do governo, que deixa os cães a ladrarem até se cansarem e prossegue o seu rumo.
É esse o sentido do republicanismo, que se celebra neste feriado e as direitas quiseram despromover a dia comum. Não o é, porque o 5 de outubro serve para lembrar que Portugal não é país talhado para reis nem reizinhos, mas para quem do povo colhe a devida legitimidade democrática. Mesmo que, de quando em quando, se descarrile do ainda distante Socialismo e persista em ser pouco laico, dando importância excessiva a quem continua a iludir gente crédula com deuses inexistentes num qualquer panteão...
Resta acrescentar outra forma, menos comum, de abordar a efeméride: não a reduzindo ao heroísmo dos seus protagonistas, mas interpretando-a como aquele dia em que a ala mais culta da burguesia, aquela que imaginava um país economicamente mais desenvolvido, com uma população melhor educada e saudável, e liberta de padres, mandava às malvas a da outra, ultramontana e beata, que se deixara acossar em torno de uma absurda monarquia.
Como sempre sucede na História, o novo atirava para o caixote do lixo o que, há muito se mostrava velho e imprestável. E essa é regra que, tanto valeu para 1910 como para os anos que aí vêm!
Um texto sério que deve ser lido...
ResponderEliminarDeve ser lido, refletido e não esquecido, como História e futuro.
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