Esta foi a semana em que diversos partidos pretenderam entalar o governo com o Orçamento e sucedeu-lhes o mesmo que se costuma designar pelo provérbio de ir buscar lã e sair tosquiado. Nesse sentido António Costa manteve a prudência de quem só sabe dar passos de acordo com o tamanho da perna e o Partido Comunista pôs em xeque o Bloco de Esquerda, tornando-o irrelevante para a superação da crise iminente com que se deleitavam todos quantos pretendiam ver repetido o filme do chumbo do PEC IV em 2010.
Quando se pensaria já terem acontecido circunstâncias bastantes para aprenderem a lição e agirem à revelia dos ditames do Papa Louçã, as moçoilas do Bloco vão desafinando ao som da canção do Sérgio Godinho: Há-de-alguém ser quem não é? E de facto Catarina, as irmãs Mortágua ou Pedro Filipe Soares continuam a não ter a necessária sensatez para que sejam considerados como pouco mais do que meninos embirrentos.
Poder-se-á dizer que de Política com maiúscula, Jerónimo sabe mais a dormir do que os que se sentam à sua direita (à nossa esquerda enquanto espectadores!) no hemiciclo. Não será por acaso, que se prevê a recondução como secretário-geral no próximo Congresso. Ele tem a tal consistência com quem se podem fazer acordos e saber que eles serão cumpridos até ao fim.
Mas, se à esquerda, já tudo se terá decidido - mesmo que o Bloco acabe por anunciar abstenção para não ficar colado às direitas, essa posição será vista como forçada e não de livre vontade! - também nas direitas haverá quem sinta o comprometimento do passo em falso. Só assim se compreende que o PSD tenha avançado com a possibilidade de mudar do voto contra para a abstenção se António Costa lhes apresentasse um absurdo pedido de desculpas. Terão querido assim insinuar que, afinal, sempre levam em conta a grave situação do país justificada pela pandemia e seus efeitos colaterais no empobrecimento de tantas famílias, quando a intervenção de Rui Rio se assemelhara ao mesmo tipo de birra protagonizado pela liderança do Bloco. Com a agravante de o antigo autarca do Porto ter na cabeça muitos mais cabelos brancos e por isso se lhe exigir outra temperança na tomada de posições.
Passando por cima do CDS ou da Iniciativa Liberal, que valem o que valem - ou seja quase nada! - importa referir o apagamento progressivo do Aldrabão. Faltará muito para que os seus financiadores consciencializem a impossibilidade de recolherem qualquer retorno de quanto nele têm investido e deem-lhe o mesmo desiderato que ao efémero Aliança, criado por Santana Lopes para voltar a ser primeiro-ministro, e afinal transformado num fétido moribundo condenado a iminente passamento?
Rui Rio inaugurou uma nova maneira de fazer política, a política dos estados de alma (para não lhes chamar birras, porque isso é mais consentâneo com o modo de proceder do BE).
ResponderEliminarEu até acho que Costa não deveria ter dito o que disse, nunca se sabe quando poderá precisar do PSD, dada a incerteza do momento, mas falou para a Esquerda, não para ofender o líder laranja. Tratou-se de uma declaração política sobre a inclinação ideológica do Governo, nada mais do que isso.
Se Rio não se tivesse decidido pelo voto contra, provavelmente seria mais difícil ao PCP abster-se, entalando o Bloco. Rio poderia até usar da justificação de Seguro para a abstenção no primeiro Orçamento de Passos Coelho e seria visto como um líder responsável porque Costa precisaria mesmo dessa abstenção, ao contrário de Passos, que tinha uma maioria absoluta na AR. Mais, a situação actual é mais grave que em 2011.
Por isso, Rio teria toda a latitude para dizer que era contra este OE, mas que se iria abster porque é melhor um mau OE do que nenhum, sobretudo neste momento, com esta crise e quando Marcelo nem sequer pode dissolver a AR.
Assim, qual escorpião da fábula, quis ser fiel à natureza trauliteira e ressabiada do PSD de Passos e acabou tosquiado, a fazer figura de parvo e a fazer um favor a António Costa, que bem pode dormir descansado...