Haverá ainda quem se lembre dos tempos em que Artur Albarran era uma das caras mais conhecidas da televisão enaltecendo o dramatismo do que noticiava com alongadíssimas expressões bombásticas: qualquer situação equivaleria ao «drama», ao «horror» e quase ejaculava de prazer ao transmitir às audiências essa dimensão das tragédias quotidianas.
Nunca soube se verdadeiro aquilo que dele se chegou a dizer sobre as reportagens diretamente do Golfo Pérsico, quando o pai Bush encetou a guerra para «libertar» o Koweit depois da embaixadora norte-americana ter, implicitamente, convidado Saddam Hussein (afinal bem mais tolo do que teríamos julgado possível!) a avançar para a invasão do emirato vizinho. Em vez de rodadas no deserto da Arábia Saudita as reportagens teriam por cenário o areal do Guincho, sempre depois de Albarran ver as reportagens da então lançada CNN como canal capaz de dar notícias 24 horas por dia.
Quando os nossos locutores - reparem que dispenso-me de os qualificar de jornalistas! - entusiasmam-se com a dimensão das catástrofes - acabam por replicar o estilo desse quase esquecido antecessor. E quase adivinho que, esta noite, com mais de três mil novos infetados com o covid vai ser um autêntico regabofe.
Dirão os que aqui são visados; mas que alternativas nos deixam, quando já toda a gente esqueceu o que Rui Rio disse na véspera sobre a posição do PSD quanto ao Orçamento ou poucos terão paciência para as birras infantis de Catarina Martins? À falta de incêndios ou inundações, os telejornais servem-se da pandemia para darem substância aos discursos com que pretendem atiçar as emoções dos que consomem a publicidade dos intervalos e que, a bem de ver, lhes pagam os ordenados.
Poderíamos contrapor o sucesso, que teriam se cuidassem de, por exemplo, perguntarem aos senhores bastonários pelas suas efetivas ligações com a medicina privada e se a sua intransigência para com o governo não teria a ver com pressionarem no sentido de se destinar parte substancial dos dinheiros europeus, que serão despejados daqui a pouco nos cofres estatais, em quem faz da saúde dos portugueses um proveitoso negócio. Marcelo que tanto tem-se afadigado a dar tempo de antena a esses provedores dos interesses privados, confirma as razões porque quis ocupar o cargo e o pretenderá manter no próximo quinquénio.
Conclua-se com a novidade do discurso do papa quanto à união entre pessoas do mesmo sexo. Embora o meu indefetível ateísmo me faça sentir algo à margem do mundo católico sempre dá para imaginar o que andam por esta altura a remoer Nuno Melo e os que pretendiam acabar com a disciplina de Educação para a Cidadania nas nossas escolas públicas. Aquela cuja importância ficou patenteada pela morte do professor francês, que a lecionava no seu liceu e se converteu num mártir adicional na interminável luta em prol da liberdade de expressão.
Mais uma vez: EXCELENTE análise!...
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