No nosso país o Aldrabão procura vir a equipara-se àqueles cujo modelo ideológico replica - assim se explica a recente visita a Marine Le Pen! - mas está longe de alcançar a importância conseguida por Orban na Hungria ou por Kurz na Áustria.
É a pensar nestes últimos, e também nos partidos de extrema-direita no seu país, que o sociólogo alemão Wilhelm Heitmeyer criou o conceito de «áspera burguesia» - «rohe Bürgerlichkeit» - para o qual os partidos democratas em geral, e as esquerdas em particular, tardam em encontrar os mais eficazes antídotos. Ele caracteriza-se pela retórica brutal, embora requintada na aparência, para justificar políticas autoritárias e agressivas contra grupos sociais mais frágeis, que dizem ameaçar os privilégios dos que vivem há mais tempo num determinado país.
Heitmeyer chama a atenção para aquilo que se leciona nalgumas universidades, como as Direito ou de Economia, o que faz todo o sentido sabendo-se o que, por exemplo está subjacente à Nova SBE, que complementa a ortodoxia neoliberal da Católica ou do IADE. Nas congéneres europeias consolidou-se um discurso de desprezo contra certos grupos sociais entre os quais se contam os muçulmanos, os refugiados ou os sem-abrigo, que o referido Aldrabão substitui pela sanha contra os ciganos. A solidariedade e o sentido de justiça social ficam redondamente excluídos do tipo de valores aí enfatizados.
Recuperando o conceito de burguesia, que tanto assusta os donos atuais do pensamento dominante Heitmeyer conclui que o fenómeno faz parte da sempiterna luta de classes em que supostamente defendem os privilégios de quem se sente deles privados mas, na realidade, se garantem os dos que pagam pela propaganda de tais forças de extrema-direita e delas pretendem colher os apoios políticos para manterem e aumentarem a sua já lauta riqueza. Mesmo que isso signifique uma desigualdade gritantemente maior relativamente aos que nada têm.
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