Numa regra que nunca vi contestada até pelos mais tenazes oponentes de quem a disse - Lenine - a História parece avançar ao ritmo de dois passos em frente e um à retaguarda.
Nas décadas mais recentes - as que coincidiram com a chegada de Reagan á Casa Branca em 1981, já estando Thatcher em Downing Street desde 1979 - as ideologias de esquerda retrocederam em favor das que enalteceram a liberdade dos mercados como fonte de riqueza para todos, quando afinal só beneficiou muito poucos. A falsa solução da esquerda apossar-se do poder com as ideias das direitas - assim o propunha a Terceira Via de Blair - durou aquilo que costuma ser a vida útil de qualquer habilidosa vigarice.
Porque o capitalismo neoliberal entrou em acelerada falência com a crise de 2008 e, sobretudo, com a evidência dos efeitos nocivos da globalização, potenciada por esta pandemia, as direitas extremaram-se e deram o ensejo às vitórias de Trump ou Bolsonaro e às derivas próximas do fascismo por parte de Orban, de Erdogan e de outros governos do leste-europeu, ou ainda a situações quase vitoriosas por parte de Salvini em Itália ou de Marine Le Pen em França.
Há algum tempo que a maré parece estar a mudar. Aconteceu a viragem na Argentina, a queda abrupta das extremas-direitas em diversos países europeus (propiciando a sua justificada criminalização como acabou de acontecer na Grécia com a Aurora Dourada) e ainda mais aceleradamente se verificará com as derrotas de Trump e de quantos com ele se identificam. A hora das esquerdas está a tornar-se mais sólida, não se quedando pelas exceções de que os governos ibéricos são prova.
A vitória de Luis Arce na Bolívia corrobora essa previsão. Apesar do golpe de estado, que teve por trás os interesses do dono da Tesla, Elon Musk, verdadeiro Darth Vader do capitalismo atual, os habitantes do país andino reverteram-no nas urnas com tal expressão, que nem a liderança da OEA, totalmente enfeudada aos interesses norte-americanos, consegue pô-la em causa.
Razão acrescida para considerar que, de acordo com esta tendência atual, os fenómenos do Vox em Espanha ou do Chega em Portugal mais não são do que vómitos tardios de uma embriaguez capitalista em vias de ser curada com receitas que a darão como definitivamente ultrapassada.
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