Há cinco anos, quando integrei o exército de centenas de cidadãos mobilizados por todo o país para conduzir a bom porto a candidatura de António Sampaio da Nóvoa fi-lo por nele reconhecer as qualidades necessárias a um exercício superlativo das funções de Presidente da República. Nos valores e nas ideias para um futuro tal qual o desejo para este Portugal do século XXI.
Contra ele concorriam os candidatos do PCP e do Bloco, confinados nos respetivos nichos, e os de opereta, entre os quais se situavam Maria de Belém e Marcelo. Da primeira sabíamos as intenções: promover uma segunda volta das primárias, que tinham dado a vitória interna dentro do PS a Antonio Costa, na esperança de reverter o resultado a começar pela incómoda convergência então conseguida com as demais esquerdas. Era uma candidata sem ideias para o futuro, mas se julgava bastar no despeito dos derrotados. Quanto a Marcelo sabe-se o que foi a sua campanha, lançada muitos anos antes nas duas principais cadeias televisivas privadas, e destinada a, no momento certo, limitá-la ao indecoroso espetáculo de selfies e abraços, que se tornaram a versão atualizada das papas e bolos com que se enganaram os tolos.
Desta feita ele ganhará à conta do investimento, que continuou a fazer nessa imagem de presidente dos afetos, embora lhe fique a mágoa de não conseguir sequer aproximar-se da esmagadora vitória de Mário Soares, quando este se recandidatou ao cargo. Mas não terá a confrontá-lo uma candidatura de valores e ideias como a foi a de Sampaio da Nóvoa. As que mais disso se aproximarão são as dos tais candidatos de nicho e por isso muitos socialistas nelas depositarão o seu voto sem, desta feita, irem além no seu empenhamento, que não seja o de o depositarem na urna no dia aprazado para o efeito.
De Ana Gomes vão-se acumulando as razões porque desmerece o apoio dos militantes e simpatizantes de um partido, onde se fez aderente já este milénio, precisamente quando perspetivou o quanto esse gesto poderia render-lhe o muito que doravante usufruiu nos cargos para que, rapidamente, se conseguiu fazer eleger.
Da sua atividade política, sobretudo na desenvolvida no Parlamento Europeu, ficou a colagem a algumas causas meritórias e a participação como observadora nalgumas eleições - sobretudo em África - que lhe renderam alguma notoriedade, sem se traduzir em nada de particularmente significativo.
A páginas tantas, e quando julgou útil à sua ambição o associar-se à horda ululante disposta a defenestrar o primeiro-ministro do governo socialista de então, fê-lo com o mesmo entusiasmo com que tomou como alvo Paulo Portas na questão dos submarinos, sem nada de concreto alcançar. Como se fosse lícito, sequer legítimo, equiparar José Sócrates e Paulo Portas, apagando de uma penada tudo quanto o governo do primeiro concretizara de positivo em prol de um país mais próspero e socialmente mais justo. Para ela o agitar do espantalho da corrupção passou a servir de argumento para satisfazer o narcisismo de quem nunca se curou da doença infantil contraída nos verdes anos, quando militou no MRPP. Nesse sentido ela é caso exemplar de quem quis libertar-se do espartilho maoísta sem que ele alguma vez dela se tenha dissociado.
Demonstra-o a entrevista ao Hora da Verdade da Renascença e ao Público, toda ela tendo António Costa como alvo privilegiado aproveitando a atual cruzada das direitas a propósito das regras da contratação pública e da não continuidade do presidente do Tribunal de Contas. Em vez de tentar sequer compreender o que esteve em causa em ambas as decisões, apressa-se a aderir às interpretações dessas direitas, ao mesmo tempo que condena a suposta “triste cena da Autoeuropa”, como se desconhecesse o verdadeiro significado desse momento: nem o apoio efetivo de António Costa a Marcelo, nem a criação de mais um motivo espúrio de distanciamento entre os dois, que ainda mais venha a dificultar a governação no resto da atual legislatura.
Na mesma entrevista Ana Gomes considera que os previstos fundos europeus serão a grande oportunidade para reformar o país, não só dizendo desconhecer o rumo pretendido pelo governo - pelos vistos nem leu a Agenda para a Década anunciada em 2015 nem o documento de António Costa e Silva para a reaferir! - como nada acrescentando sobre o que ela própria considera imprescindível para essa transformação. O que não admira: se Maria de Belém pecava pela total falta de ideias relativamente ao que o país deverá ser, Ana Gomes a ela nada acrescenta. Apenas acha que a corrupção deve ser combatida, mas para tal só é necessário que as instituições funcionem como não aconteceu quando os Dias Loureiros, os Duartes Limas e toda a demais corte cavaquista embolsou fortunas à conta de partir e repartir os subsídios europeus mostrando perceber da «arte».
Felizmente para nós, António Costa criou as condições - quando esteve no governo como ministro da Justiça! - para que isso não se volte a repetir. E tem também a seu favor uma vida inteira dedicada ao serviço público sem que haja quem lhe consiga apontar uma ínfima razão para desmerecer do nosso enorme respeito como homem íntegro e apostado em concretizar a sua Visão - o tal rumo de que Ana Gomes continua à procura sem conseguir encontrar! - para o país.
Numa altura em que estamos a contas com esta tripla grave crise - sanitária, económica e social - fazer de quem lidera a sua resolução o principal alvo, torna Ana Gomes uma indiscutível idiota útil das direitas...
Concordo com o texto e não posso compreender a forma como Ana Gomes para ganhar tenta desfazer o António Costa.
ResponderEliminarPorque é que ela não faz um Partido de arrependidos do MRPP? Grande tacho.
ResponderEliminar