1. Em meados do próximo ano, quando a vacinação contra o covid tornar a doença menos gravosa e cingida a pequenos surtos, tão localizados quanto prontamente combatidos com eficácia, poderemos olhar para trás e concluir que, citando o poema do Paul Éluard, ao fim de tantos desgostos o vírus ter-nos-á dado a iluminada janela de nos livrar de Trump. Porque, acaso não houvesse ocorrido, com a tragédia em mortos e infetados , complementados com os que perderam os empregos, tudo apontava para que a campanha eleitoral atualmente em curso se transformasse num passeio para o inquilino da Casa Branca.
É certo que o sucedido há quatro anos basta para que subscrevamos a sábia recomendação do tal futebolista para o qual os prognósticos só se deveriam arriscar no fim do jogo, mas apesar de Biden só ir ligeiramente à frente de Trump na Flórida e estar lado-a-lado com ele na Pensilvânia, quero acreditar que, a meio de novembro, quando estiverem contabilizados os votos por correspondência, só corroborarão o imediatamente constatável na madrugada do dia 4: uma maioria substancial de votos e de mandatos para Biden e maiorias democratas nos governadores, no Senado e na Câmara de Representantes. Assim o perspetivam as sondagens, que preveem um anormal afluxo de eleitores às mesas de votos nas próximas eleições. É que há tanta gente farta com o vendedor de banha da cobra, que iludiu muitos incautos há quatro anos, que tudo farão para o derrubar do poleiro.
Subscrevo o que diz Gregorio Duvivier: “Achei que nunca fosse conseguir torcer pelo Biden, mas quando eu vi já tinha me apaixonado. Quando me dei conta, estava vibrando por um velhinho gago, péssimo de debate, mas que parece uma pessoa adorável, que escuta as pessoas, e a ciência, isso já significa tanta coisa hoje em dia.”
2. Prosseguindo esta lógica dos “males que vêm por bem” - e apesar do que isso significa no avolumar do número de vítimas - esta segunda onda comporta uma vantagem não despicienda: acaso a tendência de diluição do problema tivesse prosseguido e, agora, lidássemos com indicadores bem mais favoráveis, a pressão sobre as farmacêuticas para que produzissem a vacina, tenderia a aliviar-se. Porventura, perspetivando a falta de retorno nos recursos investidos nesse esforço, muitas delas reorientariam a investigação para outras áreas mais rentáveis. Ora, esta segunda onda refreia essas tentações: precisamos das vacinas e de medicamentos adequados a vencer o vírus e o esforço só pode abrandar quando produzir os resultados almejados.
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