Há uma frase de Muhammad Ali com que muito me identifico. Orgulhava-se o conhecido pugilista de nunca ter sido derrubado, porque sempre se soubera levantar do tapete. E assim me comportei toda a vida: mesmo nos dissabores sempre me convenci de serem meramente conjunturais, deles havendo que recolher os conhecimentos e a experiência para, quando circunstâncias semelhantes ocorressem, melhor as soubesse superar.
Um documentário de quase duas horas, que diversas cadeias televisivas estão a emitir, mostra ser essa a melhor característica de Joe Biden, aquela que porventura lhe dará acesso a um cargo para o qual lhe faltam evidentes qualidades. Mas, quando do outro lado está apenas um personagem, uma marca sem substância a não ser na da mais execrável maldade, convenhamos que será preferível quem se foi, década após década, reinventando depois de ter perdido entes queridos em momentos-chave da sua vida ou dececionando quem dele esperara atitudes determinantes quando estavam em causa valores hoje inquestionáveis para quem os quer ver traduzidos em políticas concretas nos próximos quatro anos.
Convenhamos que Kamala Harris, que o acompanha como candidata à vice-presidência, também não é um modelo de virtudes. Nas suas contradições sobre a justificabilidade ou não da pena de morte ou na vertente arrivista, que a fez introduzir-se habilmente nas mansões de Pacific Heights, existem limitações de carácter, que quase por certo replicarão as censuras devidas a Barack Obama por ter estilhaçado o capital de esperança de que se vira investido - e até consagrado com um Nobel da Paz! - e depois esteve ao nível do mais tenaz falcão imperialista.
Um e outro não se equiparam a Bernie Sanders ou Elizabeth Warren, que constituiriam o tandem de sonho para a Casa Branca e, ironicamente sonhando mais alto, com Michael Moore à frente da Fox News, mas é o que há e a mais não os sabemos obrigados conquanto nos livrem de quem tanto dano fez às relações internacionais e, sobretudo, a causas urgentes como as do clima.
A ganharem, Biden e Harris confirmarão que, na política, mais valerá ficarmo-nos pelo que é, em cada momento, o possível, porque o desejável está longe de ser a opção mais sensata. Mas isso é lição ainda não aprendida pelos atuais dirigentes do Bloco de Esquerda...
O Jorge Rocha é uma pessoa razoável. Diz o povo e tem razão que mais vale um pássaro na mão do que dois a voar, o que naturalmente se traduz na política nacional por 'mais vale um social-democrata liberal em São-Bento do que um socialista na oposição'...
ResponderEliminarOu como dizia o Nick Cohen, fizeram mais pelos pobres Blair e Brown em quatro meses que Corbyn em quatro anos...
As maiorias não são apenas coligações de Partidos, são sobretudo coligações de eleitores em que o que uns querem é por vezes contraditório com o que os outros querem, logo é necessário encontrar um ponto de equilíbrio. Como se dizia após o 25 de Abril, 12,5% (resultado do PCP nas eleições para a Constituinte) não é nenhuma Maioria...