Mais de dois mil novos infetados por dia - provavelmente três mil num futuro muito próximo! - justificam que António Costa sinta a necessidade de dar um abanão sério na sociedade. Porque quantos desses novos casos têm a ver com uma atitude que nada deve ao civismo por parte de quem os disseminou? Quantos jovens pensam não terem de acautelar-se por presumirem-se assintomáticos, mesmo que contaminados? Quantos enfeudados nas crenças religiosas mais absurdas consideram bastar-lhes o apoio divino para verem o vírus passar-lhes ao largo? Ou quantos imitam aquele norte-americano que, à saída de um comício de Trump, julgava-se imune por ter uma boa alimentação, provavelmente á base de junk food?
Não se compreende que, perante a evidência dos factos, venham os partidos mais à direita do PSD contestarem as medidas aprovadas quanto à obrigatoriedade das máscaras em espaços públicos e da aplicação Stayaway Covid. E que o Bloco de Esquerda, mais o sindicalista José Abraão - ainda por cima membro da Comissão Nacional do PS! - se lhes associem! Dá para confirmar que o covid 19 não limita a virulência aos conhecidos sintomas, que todos aprendemos a detetar em nós próprios, mas também na dúbia inteligência de gente, supostamente de esquerda, que se prende com detalhes, mormente o de estarem em causa liberdades individuais perfeitamente dispensáveis nesta conjuntura em que ganha maior importância o bem coletivo.
Pode-se considerar que a aplicação para smartphones tem sérias limitações não se compatibilizando com muitos dos telemóveis em uso, mas armar confusão por implicar a limitação à privacidade de quem a utiliza é algo que só merece um qualificativo: uma absurda estupidez!
Não propriamente efeito colateral do coronavírus, mas o seu indecoroso aproveitamento, é o da carta dos bastonários dos médicos, que voltaram ao ataque à ministra da Saúde em particular, e ao governo em geral, à conta da sua arreigada defesa da medicina privada para a qual quereriam ver transferidas muitas das verbas destinadas ao Serviço Nacional de Saúde.
Que Miguel Guimarães se sinta fragilizado o suficiente para recorrer ao apoio de quem o antecedeu na habitual defesa corporativa da classe de que é bastonário, é revelador de como se sente desde o episódio do disse que disse no encontro com António Costa há algumas semanas atrás. E olha-se, por exemplo, para a assinatura de Germano de Sousa entre os signatários e não podemos deixar de o associar ao enorme império económico, que construiu à conta da sangria da saúde pública para a atividade das suas clínicas e laboratórios. Essa carta revela bem ao que vêm os que a assinam: o enfraquecimento do SNS em proveito dos hospitais e clínicas privadas de que são vigorosos provedores de interesses...
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