A transformação de uma justa indignação em algo de ilegítimo foi evidente na Assembleia da República e na imprensa, quando houve quem depreciasse as palavras da diretora-geral de Saúde a respeito do comportamento antipatriótico de alguns agentes políticos a respeito da forma como o país está a enfrentar a atual pandemia.
Graça Freitas tem toda a razão para reagir como o fez, porque não falta quem faça da crise sanitária um permanente terreno de batalha para dirigir farpas contra o governo, dando razão a quem considera essas críticas não só indecorosas, como sobretudo, sórdidas nos propósitos, que as motivam.
De fora é, porém, outra a imagem que o país dá. Vejam-se as duas páginas hoje publicadas no diário francês Libération, assinadas por François Musseau e tendo por título “Face ao Covid-19 as receitas do sucesso português”. As de separação clara entre os doentes do covid-19 e os das demais patologias logo desde o início da crise sanitária, como o afiança o diretor clínico do hospital Santa Maria e justificando que, com 1/4 da população espanhola, Portugal tenha apenas 1/10 de doentes infetados com a doença e 1/16 de vítimas mortais.
Curiosamente, para quem o ouve de fora, até o sempre tão crítico Roque da Cunha do Sindicato Independente dos Médicos, explica estes indicadores com a rapidez da resposta á crise, evocando-se então a frase de António Costa quando disse “não temos outra escolha senão a de sermos bem sucedidos!”. Razão para um precoce confinamento, que pôs as ruas das principais cidades completamente esvaziadas de gente numa altura em que até alguém, aparentemente tão bem protegido dos perigos e beneficiando de excelentes cuidados médicos - o presidente do Banco Santander, Vieira Monteiro - acabava por inaugurar o rol das vítimas mais mediáticas.
A hipocondria de Marcelo - que logo se fechou na casa de Cascais! - justificou que tivesse secundado sem tibiezas as decisões do governo, capaz de para elas garantir o apoio maioritário da população, que mantém-se apesar de multiplicarem-se as tentativas para o pôr em causa.
A concluir a reportagem o jornalista francês dá a palavra àquela que designa como «enérgica ministra da Saúde», que diz: “Conseguiu-se que, graças à assistência telefónica, 80% dos doentes tivesse tratamento em casa. Mas é difícil controlar tudo tendo em conta que as capacidades de testes e de despistagem preventiva são limitadas”. Motivo para serem enfatizadas as 38 equipas multidisciplinares organizadas para o trabalho descentralizado em dez concelhos da grande Lisboa, a proibição da venda de álcool depois das oito da noite, a redução da afluência em bares e restaurantes próximos das escolas. A tal receita cujo sucesso se quer perdurar.
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