Agora que uns quantos - de Marcelo Rebelo de Sousa a Carlos Costa, de Marques Mendes a Passos Coelho, sem esquecer Teodora Cardoso -, já deverão estar a recuperar da crise de azia, que lhes terá suscitado a eleição de Mário Centeno para presidente do Eurogrupo, e que muitos apreciadores da maioria parlamentar terão reagido com o entusiasmo, que terá faltado às direções políticas do Bloco de Esquerda e do PCP, é altura de olhar para aquilo que o ministro das Finanças português se compromete a cumprir no novo cargo: “Questionar, encontrar os erros, trazer mais abertura a estas discussões”.
Dificilmente, pois, encontrarão os paladinos da austeridade um terreno fértil para darem como inquestionáveis axiomas o que demonstrou ser um erro de palmatória, se não mesmo um crime indesculpável para quem lhe arcou com as consequências, sobretudo os povos grego, espanhol e português.
Revelando a sua experiência enquanto secretário de Estado, que terá vivido o período mais difícil de demonstração da bondade da alternativa proposta pelo novo governo contra essa miopia schaubliana, Fernando Rocha Andrade prevê o alcance da mudança na titularidade da coordenação dos ministros das Finanças da zona euro: «As decisões do Eurogrupo são enquadradas e condicionadas pelas posições da tecnocracia, que são verdadeiras opções políticas para a zona euro disfarçadas de verdades técnicas. À maioria dos políticos, mesmo ministros das Finanças, falta muitas vezes a capacidade de questionar essas opções. Mário Centeno, que tem a competência para as discutir, e aplicou com sucesso uma alternativa, está agora na posição de confrontar essa tecnocracia e de lhe perguntar, relativamente a cada uma dessas opções: “Porquê?” Isso é bom para Portugal — e é bom para a Europa.» (Público, 5/12/2017)
Daí que confie na mudança representada pelo facto de «de as reuniões do Eurogrupo passarem a ser dirigidas por alguém que aplicou com sucesso uma política que visa garantir não só finanças públicas sustentáveis, mas também um euro socialmente sustentável.»
Nos próximos meses Centeno poderá ser determinante para intervir positivamente no possível alívio da dívida grega, nos planos de reforma da zona euro e nas mudanças nas instituições e nas regras orçamentais europeias.
«O que nós agora ganhámos foi a possibilidade de trazermos [para o debate sobre a construção europeia] um conjunto de princípios que são do PS, estão no programa de governo, e em que nada prejudicam a condução da política do Governo», disse na conferência de imprensa subsequente à sua eleição.
Aquilo que Dijsselbloem, mais do que não saber só sabotou - fazer do euro uma ferramenta essencial na convergência real das economias que partilham essa moeda - poderá vir a ser concretizado por Centeno, através da harmonização fiscal, impedindo que alguns países como a Irlanda, o Luxemburgo ou a Holanda prossigam com o dumping, que justifica a deslocalização de grandes empresas para os seus territórios. Assim como poderá ganhar expressão o financiamento europeu de parte dos subsídios de desemprego em caso de crise num determinado país.
Avanços decisivos nessa direção suscitarão um novo élan no entusiasmo pela União Europeia. Algo, que se perdeu nas últimas décadas.
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