Catarina Martins deu uma longa entrevista ao «Expresso» onde repete os argumentos já muito seu conhecidos, quase nenhuns sem novidades dignas de nota. Para o que verdadeiramente nos importa - garantir a continuidade da atual maioria parlamentar - nada no seu conteúdo nos pode levar a crer na possibilidade de a pôr em causa, por muito que seja esse o desejo manifesto do deputado europeu Francisco Assis, sempre apostado em ver um termo ao que lhe tem contrariado todos os seus estafados preconceitos ideológicos. Pode desgostá-lo a ele, ao presidente da República, aos desconcertados patrões da Concertação Social e respetivas marionetas nos partidos das direitas e na quase totalidade dos órgãos de comunicação social, mas não é crível que nada ponha em causa os acordos dos socialistas com bloquistas e comunistas até ao próximo ato eleitoral de 2019.
A entrevista contém, porém, dois assuntos controversos em que será difícil retirar razão à líder do Bloco: a legislação laboral e a designação de Maria de Belém para a coordenação da revisão da Lei de Bases da Saúde.
A Lei Geral do Trabalho chegou a ser das mais evoluídas a nível europeu quanto ao reconhecimento dos direitos nela previstos para quem está empregado por conta de outrem, mas sucessivos governos do defunto arco da governação e a traição ativa da UGT transformaram-na numa caricatura em que se atribui aos patrões o posso, quero e mando, suscetível de todas as arbitrariedades. Se de facto, os socialistas têm uma responsabilidade significativa nesse recuo civilizacional os quatro anos de desgovernação entre 2011 e 2015 acentuaram em muito essa involução.
Torna-se, pois, imperiosa a reversão de muitas das alterações então impostas, se pretendermos ter relações mais equilibradas entre quem manda e quem obedece, mormente limitando a precariedade e a obstrução da ação sindical dentro das empresas. Agora que as esquerdas têm uma maioria clara no Parlamento é altura de a impor em tão importante revisão da legislação por muito que se adivinhe o papel dissuasor de um Marcelo apostado em fazer de Belém o centro nevrálgico da defesa dos interesses dos que com ele se identificam ideologicamente.
As reservas emitidas por Catarina Martins a respeito da escolha de Maria de Belém para coordenar a revisão da Lei de Bases da saúde também faz todo o sentido: como se pode pôr uma raposa a tomar conta do galinheiro? É que a referida senhora está umbilicalmente ligada aos interesses financeiros ligados ao negócio privado do setor e tudo fará para que ele não seja posto em causa pela consolidação do Serviço Nacional de Saúde. A exemplo do que sucedeu com a forma como tratou do dossier Infarmed, também nesta matéria o ministro Adalberto Campos Fernandes está a agir apenas com os pés. Ademais, como provecto militante socialista repugna-me ver premiada uma das maiores responsáveis pela forma bem mais facilitada como Marcelo se viu eleito para Belém.
A História nunca poderá demonstrar o que sucederia se, como tudo o indicava, seria o Prof. Sampaio da Nóvoa o candidato oficial do Partido Socialista, mas a provável segunda volta e um novo debate em que Marcelo voltaria a ser desmascarado na sua efetiva personalidade - como sucedeu no debate da primeira volta - ter-nos-ia dado uma outra realidade, que não esta, marcada pelas ameaças subtis de quem se guindou ao cargo para sabotar a ação governativa da atual maioria...
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