A reunião dos socialistas europeus em Lisboa trouxe até nós gente muito estimável, mas não pareceu avançar significativamente numa questão essencial: como contornar os discursos populistas e conseguir que as populações mais desfavorecidas voltem a sentir-se seduzidas pelos discursos de esperança das esquerdas afastando-se decisivamente dos que nelas têm instigado o ódio contra os supostos culpados, sejam eles os refugiados, os muçulmanos, os negros, os judeus, os ciganos, os homossexuais ou quaisquer outros alvos da mesma estratégia fascista.
Há pouca ideologia hoje em dia nos discursos dos líderes socialistas e daí falhar-lhes uma Visão clara que tipo de futuro pretendem oferecer aos respetivos eleitorados. Por exemplo, Trump ganhou Estados decisivos por prometer empregos a quem os tinha perdido. Por isso a lógica ditaria, que os Democratas fizessem agora ativa campanha a demonstrar como essa eleição fora um embuste, porque não só Trump terá agora garantido que os muito ricos irão pagar menos impostos, como esses miríficos empregos não apareceram, nem voltarão a acontecer. Por isso mesmo o desafio para os Democratas - ainda demasiado atónitos para reagirem devidamente ao seu fracasso eleitoral! - seria a reaproximação a esses ex-operários brancos desiludidos e dar-lhes a conhecer um programa viável e concreto de como os poderá fazer sair da miséria em que caíram.
Se na Europa a situação de catástrofe não é tão óbvia como a vivida em certos condados do Ohio ou do Michigan, os socialistas europeus não podem limitar-se a pegar no exemplo português para demonstrar como uma governação concertada à esquerda pode garantir uma bem melhor gestão das finanças públicas sem porém colocar em causa muitos dos axiomas neoliberais em que a União assenta todo o seu funcionamento.
Se os resultados conseguidos pelo governo português são bons, o eleitorado já deu mostras, nalgumas das suas mais reivindicativas corporações em como nunca se satisfará com migalhas, querendo antes o pão inteiro. O que dará azo a greves e outras lutas sociais confrontando António Costa com um dilema fundamental: manter o rumo sensato seguido até aqui, mesmo à custa de muitas reportagens televisivas a darem a ideia de se viver num caos social, ou forçar os parceiros europeus a serem menos dogmáticos nos princípios, que os tratados definiram.
Nos próximos anos o sucesso das esquerdas lusas estará indissoluvelmente ligado aos das congéneres no continente: se estas souberem encontrar o discurso certo para se tornarem maioritárias talvez haja motivos para justificado otimismo. Se, pelo contrário, vigorarem cópias mais ou menos convincentes dos figurões da tristemente célebre »Terceira Via» só poderemos esperar o pior. Porque já não são apenas os bloquistas ou os comunistas a constatarem que o nosso potencial de crescimento está seriamente bloqueado pelos constrangimentos ditados pelos burocratas de Bruxelas...
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