Sobre a eutanásia e o suicídio assistido a minha posição é muito clara: totalmente a favor. O que significa que, sendo o único dono do meu corpo, pretendo ter o direito de, assim a saúde - ou a falta dela! - a tal me obrigue, quero ter o direito de decidir sobre o momento de morrer, poupando-me a sofrimentos desnecessários. E que não me venham com a história da evolução dos cuidados paliativos, porque a questão não se prende apenas com o deixar de sentir dor, mas sobretudo com a impossibilidade de colher da vida quanto ela hedonisticamente me possa oferecer.
Posso admitir que terá sido exagerada a atitude contada por um colega meu de profissão, que perdeu um dos avôs debaixo de um comboio na linha de Sintra por ter perdido a capacidade de ereção e deixar, assim, de ter o prazer sexual a que se dera gratamente durante décadas, mas se o senhor via nisso o seu verdadeiro sentido da vida, quem somos nós para o condenar? Em tal situação teria sido preferível poupar-lhe a forma terrível e, decerto extremamente dolorosa, como morreu e ter-lhe facilitado a solução química adequada para dizer adeus sem grande dor.
Vem isto a propósito de mais uma marcelice: se havia quem tivesse esquecido o seu nefasto papel no adiamento por vários anos da aprovação da interrupção voluntária da gravidez a muitas mulheres, assim condenadas a, por vários anos, recorrerem às parteiras de vão de escada, pondo as suas vidas em perigo - infelizmente nem ele, nem António Guterres foram intimados a responderem pelas mortes das mulheres que terão desaparecido em tais circunstâncias nesse hiato trágico! - o selfieman já vai avisando que, qualquer dos previstos três diplomas a serem em breve apreciados no Parlamento sobre aquelas matérias não terão dele apenas uma apreciação jurídica. Por outras palavras, Marcelo prepara-se para voltar a demonstrar a sua essência preconceituosa contra a vontade de uma significativa percentagem de portugueses, que se estão borrifando para a forma como gente religiosamente motivada queira morrer, mas exigem que não se intrometam numa decisão, que lhes cabe a si por inteiro.
Temos, pois, mais uma demonstração dos motivos porque nunca deveríamos ter de aturar um filho de salazarista como presidente da República. Porque, como se canta num tema de Sérgio Godinho, há-de-alguém ser quem não é? Marcelo mostra que está longe de ser um democrata no que isso significa respeitar as opiniões alheias quando elas contradizem as suas sectárias convicções.
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