É sabido que o grupo SONAE tem uma dolorosa pedra no sapato contra José Sócrates a quem imputa uma das maiores responsabilidades por não ter conseguido levar por diante o controlo da Portugal Telecom. Muito embora o antigo primeiro-ministro negue essa influência negativa no negócio, Paulo Azevedo tem-se referido a ele de forma acintosa, tomado de certezas que nenhum documento conhecido até agora permite confirmar.
Vem isto a propósito de o «Público» ter trazido este domingo para tema de primeira página a ligação de José Sócrates ao grupo Lena de quem seria uma espécie de embaixador oficioso, mesmo depois de ter terminado o mandato de governante. Vai-se ler a peça jornalística de Nuno Ribeiro e o que se constata? Nada mais do que a transcrição do longo texto da acusação do processo resultante da Operação Marquês sem nela operar o devido contraditório. Que até nem era difícil: se se pode dar algum elogio à equipa de Rosário Teixeira e de Paulo Silva é o de ter sido formada por gente que aqui manifesta uma vocação falhada, a de escritores. Andamos nós a importar literatura de cordel, mas extremamente apelativa - Dan Brown e seus sucedâneos! - e afinal temos entre nós gente com igual gabarito em imaginar enredos tão bem urdidos a partir de uma ponta aqui e outra acolá!
Os procuradores envolvidos no caso podem esbarrar no insucesso quanto à condenação ao réu, mas aconselhava-os a ambicionarem alcançar patamares de sucesso similares ao de John Grisham, que fez dos tribunais matéria excitante para os seus romances vendidos como pãezinhos. Porque quem se quer convencer da culpabilidade de Sócrates lé cada uma das linhas citadas por Nuno Ribeiro e só pode ir comentando para consigo mesmo «eu bem sabia!», «bem me parecia!» e outras interjeições do género. No entanto, aos que desconfiam das intenções premeditadas do Ministério Público e têm da política a noção de que fazê-la é também manter mecanismos de network, que possibilitem alavancagens de exportações graças à imprescindível diplomacia económica (tarefa a que Paulo Portas se entregou também sem o mesmo interesse dos subordinados de Joana Marques Vidal), a questão que se coloca é simplesmente esta: aonde é que, em tão vasto texto se encontra a evidência de que José Sócrates recebeu um euro sequer de quem se suspeita ter sido seu corruptor?
Se é só isto que o Ministério Público tem para mostrar, podemos seguir o ditado italiano em como se non è vero , è ben trovato, mas o busílis da questão é que, em tribunal não bastam as aparências. Têm de se confirmar o que nelas possa subsistir de concreto. Que até agora parece reduzir-se a uma mão cheia de nada...
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