Confesso a minha satisfação pelo resultado das eleições catalãs, que deram a maioria absoluta aos independentistas e reduziram o partido de Rajoy a quatro exíguos deputados. É certo que Inês Arrimadas, do Ciudadanos, terá tido mais votos, mas de que lhe servirão se não lhe garantem o acesso à Generalitat?
A supremacia do Ciudadanos sobre o Partido Popular significa a iminente ultrapassagem deste último como maior partido da direita espanhola. Rajoy quis tanto conservar o seu pífio poder, que deu de si a imagem de um político inflexível nos seus preconceitos, incapaz de estabelecer pontes de diálogo com quem se lhe opõe. O facto de estar bem viva na memória dos eleitores a catadupa de casos de corrupção verificados no seu partido será igualmente de molde a dele fugirem para o que está em ascensão na mesma área ideológica.
Que fará Rajoy, agora que os catalães lhe deram tão violento chapadão? Mantém a situação colonial alicerçada no mal-afamado Artigo 155 e a sua vice como governadora-geral da colónia? Reconhece o sombrio crepúsculo da sua atividade política e abre espaço a quem possa aparentar mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma?
As perguntas sobre o que ocorrerá nos próximos dias não se ficam por aí: será que o poder judicial resistirá a contestação de ter mantido presos ou ameaçados os líderes agora vencedores das eleições? Até que ponto a sociedade espanhola tolerará que juízes de mentalidade franquista a sujeitem aos seus ditames, quando a vontade popular expressa nas urnas, os contrariam? E que fará agora Filipe VI depois de tanto se ter colado a Rajoy? Tentará recuperar o estatuto suprapartidário que desprezou no discurso em que surgiu com o quadro de Carlos III por trás, dizendo-se assim na linha ideológica do antecessor, que impusera o castelhano como língua única em todo o território espanhol?
A direita anti independentista nem sequer poderá alegar a falta de representatividade de quem decidiu estas eleições: com menos de 20% de abstenção, elas foram uma exemplar demonstração democrática. Doravante a realidade será definida pelo facto de quase todos os que vivem na Catalunha se terem pronunciado e os que exigem a separação política em relação a Madrid somarem 70 deputados nos 135 eleitos. Contra estes factos não há mais argumentos...
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