Ouvindo a representante dos trabalhadores da Raríssimos a lançar um pedido de socorro para que a instituição não fique inoperacional a curto prazo como consequência do alarme mediático suscitado pela apetência da TVI em particular, e da demais imprensa em geral por tudo quanto cheire a escândalo, cabe perguntar a Ana Leal e a quem lhe tem replicado a coscuvilhice - e já agora também aos denunciadores que preferiram manifestar a sua vontade de vingança sobre quem não partilhava com eles o esbulho das contas da instituição - se não lhes pesará na consciência a incerteza lançada a dezenas de doentes e respetivas famílias, que não sabem como continuarão a receber os imprescindíveis cuidados de que carecem.
Quer isto dizer que a gestão danosa da ex-presidente merece perdão? Claro que não: o que se vai sabendo do seu comportamento é de molde a desqualificá-la completamente para a função que desempenhava. Mas está-se a tratar matéria muito delicada como o é a saúde - ou a falta dela! - de pessoas, que ali encontram a merecida assistência. Não é pois questão que seja abordada com a leviandade de deixar entrar um elefante numa loja de porcelanas. Porque os riscos são muito sérios: decepada a direção, sem possibilidades de aceder às contas bancárias e com os mecenas a cortarem-lhes financiamento, o encerramento da instituição pode ser uma questão de dias.
Daí que quando veja um dos delatores a perorar para as televisões - e pese embora a injustiça, que possa estar a cometer a seu respeito! - a pergunta que me faço é esta: quanto quereria ele receber para manter a boca calada? E quanto a quem manda fazer essas reportagens a questão é outra: na vontade de se agarrarem a qualquer coisa para mancharem o governo, pode-se chegar ao vale tudo, independentemente dos danos que causem a pessoas vulneráveis e às famílias dos que deles cuidam?
Tanto quanto se sabe essas denúncias já tinham sido entregues a quem eram devidas: ao Ministério Público, ao governo e ao presidente da República. Era uma questão de tempo, que a sua ação fiscalizadora surtisse efeitos e a substituição da presidente da Raríssimos se fizesse sem danos. A tentação de transformar um caso de justiça num espalhafato mediático nada coincide com o que é o interesse público. A forma como Ana Leal e seus capangas se comportaram é elucidativa quanto ao estado calamitoso a que chegou a comunicação social que nos vai querendo manipular.
Esta opinião sobre o que está a acontecer numa instituição da chamada «economia social» não exclui a defesa de um princípio defendido pelos partidos à esquerda do meu: rastreado o tipo de necessidades oferecidas pela generalidade das IPSS’s deveria ser o Estado a satisfazê-las e a geri-las. Coartar-se-ia assim muito caciquismo com impacto significativo na política local - com todos os interesses a ela associados! - e muito aproveitamento da Igreja Católica em algo que não lhe deveria competir. Os cuidados dedicados às crianças, a doentes, aos idosos, aos sem abrigo, aos toxicodependentes e a outros segmentos carenciados da população é um imperativo de todos, que só ao Estado cabe ocupar-se.
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