E se o discurso anti-Daesh dos Estados Unidos não fosse mais do que uma farsa destinada a escamotear uma estratégia, que foi criada durante os mandatos de Obama e tinha por objetivo acabar com um dos poucos regimes laicos ainda existentes no Médio Oriente? De facto não se compreende como os países da NATO têm diabolizado Bashar al-Assad e, ao mesmo tempo, se têm mostrado tão complacentes com regimes que, nessa mesma região, não lhe ficam atrás no recurso à violência para manter o poder. Pelo contrário são tratados com todas as mesuras pela Casa Branca e pelos principais vendedores de armamento na União Europeia, mormente a França e a Alemanha. Como poderia a Casa Branca denunciar os muitos crimes da ditadura saudita se ela se revela tão boa cliente do seu complexo industrial-militar?
As fundamentadas dúvidas sobre as estratégias norte-americanas na Síria e no Iraque tornam-se ainda mais elucidativas quanto se sabe ter sido sob proteção dos seus militares, que os dirigentes do Daesh e suas famílias saíram incólumes de Raqqa, quando a capital do califado foi tomada pelas forças curdas. Que justificação poderá haver para que criminosos de tal gabarito tenham conseguido escapar ao merecido julgamento por quanto terão ordenado, organizado e concretizado de forma a terem deixado um saldo macabro de milhares de vítimas? Até que ponto serão críveis as notícias de que alguns desses terroristas terão encontrado facilidades de regresso aos países de origem na Europa com o objetivo de ali organizarem atentados, possibilitando mais poeira para os olhos distribuída pela propaganda norte-americana, assim capaz de manter viva uma retórica antiterrorista, afinal por si mesma financiada? E que achar do enorme arsenal encontrado pelas forças sírias e seus aliados russos em zonas conquistadas ao Daesh, e constituídos por armas ainda por estrear de origem norte-americana e israelita.
Não precisamos de ler John Le Carré para saber que muitos dos acontecimentos na política internacional constituem aparências sem nexo com o que a clandestina realidade impõe como verdade dos factos. O Pentágono, a CIA e outras agências dos EUA têm sido especialistas em criarem contrainformação destinada a iludir milhões de crédulos quanto à justeza das suas atividades.
Cabe-nos recorrer ao método dos antigos sofistas e colocar as perguntas, que nos possam alertar para leituras alternativas às que nos querem impor como inatacáveis...
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