Chegamos à véspera do Natal com Marcelo a promulgar o Orçamento de Estado para 2018, mas deixando às direitas o ensejo de empolarem as «quatro chamadas de atenção», que julgou serem pertinentes para acentuarem o assumido distanciamento em relação ao governo de António Costa.
Não se compreende que um ator político sem qualquer experiência governativa nem qualquer background em questões económicas se atreva a dar bitaites a quem vem sucessivamente ultrapassando todas as expetativas criadas nessa vertente fundamental da governação. Senão constate-se a coincidência desses «reparos» com nova informação do Instituto Nacional de Estatística quanto ao facto de se ter tido apenas 0,3% de saldo orçamental negativo nos primeiros nove meses do ano, o que equivale a reconhecer que, mesmo com a carga excessiva de juros da dívida, se atingiu o equilíbrio entre a riqueza produzida e os custos assumidos pelo Estado.
Este indicador veio justificar que António Costa tenha anunciado um défice anual inferior a 1,3% do PIB, que é resultado muito melhor do que qualquer previsão até agora assumida pelo FMI, pela Comissão Europeia ou pelas agências de rating.
Não admira que um descoroçoado Lobo Xavier tenha reconhecido no último «Quadratura do Círculo» que, não só os resultados obtidos pelo governo são bons, como tenderão a ser ainda melhores nos anos, que se seguirão. O que torna esdrúxula a atual disputa pela sucessão de Passos Coelho tão certa será a derrota, e efémera, liderança de quem ganhar.
Perante tão bons resultados, de que anda Marcelo à procura?
A permanente desconsideração para com o governo não se fica por aqui: na cerimónia protocolar em que todo o elenco ministerial lhe foi apresentar os votos natalícios, e em que António Costa prestou-se a elogiar a “solidariedade institucional irrepreensível” sem se rir, o agastado anfitrião foi suficientemente indelicado para considerar que isso sucede “porque a Constituição o impõe” (mesmo que não seja essa a sua vontade, entenda-se!), que os portugueses exigem ao governo que considere o défice uma “prioridade nacional” e que a paz social é muito bonita, mas há que atender às pretensões das empresas (constata-se o contragosto com que terá promulgado o novo valor do salário mínimo). Dito isto saiu da sala sem ter cumprido o ritual da fotografia próprio desta cerimónia, tendo de voltar atrás depois de alguém lhe ter feito notar a falha.
Conclui-se, pois, que Marcelo gosta de tirar selfies com quem possa cativar para nele vir a votar nas eleições para o segundo mandato, que não merece fazer, mas escusa-se a posar com quem é obrigado oficialmente a fazê-lo.
2017 acaba em grande para o governo, apesar das tragédias, que teve de enfrentar, mas Marcelo tem confirmado o que dele sabíamos: alguém que pouco tem a ver com a afabilidade que gosta de aparentar. No mesmo programa da SIC, atrás referido, Pacheco Pereira lembrou a saborosa constatação vivida por muitos dirigentes do PSD, quando Marcelo presidia ao partido: mesmo apertados pelas necessidades fisiológicas evitavam ao máximo sair das salas onde se reuniam, porque tão só voltavam costas logo se viam objeto da maledicência do atual inquilino de Belém.
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