É raríssimo, se não mesmo uma exceção que confirma a regra: pela primeira vez em muito tempo estou de acordo com o que escreve Henrique Monteiro na versão online do «Expresso»: “Em minha opinião, são mais perigosos os indignados do que as direções partidárias” no que diz respeito à revisão da lei de financiamento dos partidos.
Pessoalmente vejo a questão em três axiomas, para os quais não admito sequer discussão:
1. Os partidos são fundamentais para que tenhamos uma Democracia digna desse nome, e por isso mesmo, devem ser organizações financeiramente robustas para não ficarem com a existência inviabilizada acaso tenham um sério revés eleitoral. O que se está a passar com o Partido Socialista francês, que Hollande, Valls e Macron vampirizaram e destruíram, mostra bem como até os anéis mais valiosos desaparecem (a sede histórica de Paris), quando essa sustentabilidade não constituía a merecida atenção;
2. Os políticos serão de tanto melhor qualidade, quando disponham de remunerações minimamente dignas comparativamente com o que usufruiriam na atividade privada: se se paga a um ministro ou a um deputado o que aufeririam se desempenhassem cargos de chefias intermédias em empresas de alguma dimensão, não se pode esperar que sintam apetência pelos cargos políticos os que para eles seriam particularmente dotados. Embora se encontrem exceções no elenco governativo e nalguns grupos parlamentares, a verdade é vermo-nos “representados” por gente pouco qualificada da estirpe de Passos Coelho, Hugo Soares, Nuno Magalhães e outros que tais;
3. É por desprezarem a importância de partidos terem finanças sólidas e os políticos auferirem rendimentos justos, que a direita trauliteira de Cristas e a ambígua associação de Paulo Morais fazem do discurso antipartidos e antipolíticos o fulcro do seu discurso criptofascistóide. Enquanto enganarem os mais tolos com a ideia de “todos os políticos serem iguais” e “que estão lá para assegurarem o seu” estamos condenados a ver os mais capacitados a porem de lado qualquer possibilidade de se comprometerem com o exercício de funções públicas. Quando alguém com as qualidades e competências de Vieira da Silva se tem sujeitado a tantos enxovalhos nas últimas semanas, quantos profissionais da sua igualha decidirão abster-se de se tornarem alvos da matilha das discípulas de Manuela Moura Guedes?
Henrique Monteiro tem, de facto, razão: se os partidos que votaram a lei cuidaram as condições para termos melhor Democracia, os que dela se aproveitam para a demagogia populista do costume são muito, mas muito perigosos. É que a besta fascista não é um mito: continua aí e mantém a sua inquietante venalidade. E Cristas anda danadinha por se mostrar tão imunda como Marine Le Pen ou Donald Trump. Felizmente para nós tem-se revelado aprendiz de feiticeira sem os dotes necessários para enfeitiçar quem quer que seja. Afinal, como António Costa lhe lembrou, as mais recentes eleições mostraram-lhe quanto efetivamente vale: pouco mais do que 2%.
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