Sou daqueles para quem o Natal pouco significa dada a incompatibilidade com os valores religiosos, que lhe estão subordinados. É claro que os doces são particularmente apetecíveis, pondo parêntesis nas intenções de ir reduzindo o excesso de peso, mas a outra razão para sentir alguma magia - a reunião da família - ficou seriamente condicionada por pertencer à geração que viu os filhos partirem para longe e os sabe aí radicados para todo o resto da sua vida ativa.
É verdade que Maomé poderia ir à montanha ou a montanha a Maomé mas, com os casamentos transnacionais, cria-se a regra de se passar este tipo de data ora com os pais de um, ora com os do outro, quaisquer deles a habitarem a milhares de quilómetros do sítio onde vivem ou trabalham.
Daí que, se para o réveillon estaremos integrados num grupo de dezenas de convivas, o Natal foi apenas partilhado com o cada vez mais idoso gato, responsável por nos eximirmos às grandes ausências por quanto o sabemos sofredor em cada forçada estadia no hotel uma ou duas vezes por ano.
Aborrece-me também todo o espetáculo da caridade hipócrita de gente bondosa a servir pobrezinhos humildes e muito agradecidos mas esquecidos no resto do ano. As jonets não são casos isolados, havendo quem lhe queira replicar o modelo, e até ultrapassá-lo, como ocorre com o nosso selfieman-mor. Sempre apostado em transformar cada um dos seus atos como espetáculo, que lhe garanta o papel principal, Marcelo distribui beijos e sorrisos como se fosse o grande responsável pela mudança operada no país nestes dois anos, muito embora os menos incautos saibam quanto ele contribuiu com raspas para tudo quanto significou a inflexão do país abúlico e triste, que António Costa herdou e ao qual devolveu o direito à esperança em melhores dias.
Vão chegando notícias animadoras, que comprovam a bondade da estratégia governativa gizada pelo governo com a cumplicidade da restante maioria parlamentar. Por isso quase entra na lógica da naturalidade a constatação de ter sido possível chegar a este final do ano com um défice de apenas 1,2% do PIB, com a dívida externa a descer significativamente e corrigindo com determinação as injustiças suscitadas por quem quis ter o pote entre 2011 e 2015. O caso dos lesados do BES , com culpas no cartório no terem-se deixado levar pelo conto do vigário aplicado por Ricardo Salgado com o febril entusiasmo de Cavaco ou de Carlos Costa, que irão receber em breve parte substancial do que tinham dado como totalmente perdido.
É claro que a comunicação social é o que é: na semana em que a Fitch alterou em dois níveis o risco de compra da dívida portuguesa, o semanário de Balsemão fez capa com o malicioso título (e factualmente falso) de estarem por construir mais de metade das casas perdidas em Pedrógão. E, na SIC Notícias, o diretor do Diário de Notícias tentava incutir a ideia da inevitabilidade de novos e gigantescos incêndios na próxima primavera, quase salivando de mera gula com a possibilidade, para ele crível, de em tal cenário Marcelo dissolver a Assembleia da República e promover uma coligação pós-eleitoral entre o PS e o PSD capaz de pôr fim à convergência atual de toda a esquerda parlamentar.
Se o Natal nos trouxe de presente a ideia de solidez no apoio popular à governação, o novo ano será o de se concretizarem os votos formulados com 12 passas e uma taça de espumante em como será ainda mais saboroso do que 2017...
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