segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Os Facilitadores, que nos andam a tramar!

Um dos livros mais interessantes de entre os que foram lançados nos últimos dias intitula-se «Os Facilitadores» de Gustavo Sampaio, que conta como a política e os negócios se entrecruzam nas sociedades de advogados. E o ponto de partida não deixa de ser bastante interessante, pois o autor constata como o poder político foi completamente capturado pelo poder económico e financeiro.
A Democracia, que deveria impor o governo da maioria para a maioria, tem sido pervertida por quem tem dinheiro e influência de modo a maximizar o mais possível os seus lucros.
Para Gustavo Sampaio as grandes sociedades de advogados têm uma função primordial nesse afã de controlar o poder político: “servem como vasos comunicantes, fornecedores de contactos, intermediários de relações, facilitadores de negócios, produtores de blindagem jurídica, depositários de informação sigilosa, gestores de influências, criadores de soluções, movendo-se habilmente nos interstícios de um sistema kafkiano”. (pág. 16)
O livro alerta-nos para o quanto tem de antidemocrático o estarmos sujeitos a interesses de “investidores” apostados em captarem os recursos públicos através de mecanismos habilidosos, que se escondem por trás de designações como parcerias público-privadas, concessões, privatizações e outras formas de maximização de rendimentos.
Um poder político fraco é o que mais lhes interessa. E por isso tem havido toda a conveniência em diminuir o mais possível a qualidade dos protagonistas políticos, alimentando as campanhas contra os vencimentos de deputados ou governantes e criando as condições para que os mais habilitados optem prioritariamente por trabalharem para o setor privado.
Não admira que o populismo de pasquins matinais e outras ferramentas de intoxicação da opinião pública, passem amiúde por “denunciar” as mordomias dos políticos, como se eles devessem sujeitar-se a trabalharem pro bono e não pela justa retribuição inerente a representarem com determinação os interesses dessa tal maioria.
Curioso será constatar que, no entanto, já alcandorados a estatutos e rendimentos correspondentes a tais qualidades, muitos dos que optaram legitimamente pelo setor privado, venham para a política com o fito de servirem de pontas de lança dos interesses dos que lhes pagam os principescos vencimentos.
Mas Gustavo Sampaio também alerta no prólogo contra as teorias da conspiração, normalmente suscitadas por falta de informação. Para ele o que está a acontecer não resultará de um plano maquiavélico desenhado na sombra por uns quantos meliantes, mas da criação de uma estrutura de interesses, que se foi organizando ao acaso e redundou na situação atual. Para a alterar serão necessárias respostas urgentes, que implicarão necessariamente o reforço do poder político relativamente a tais poderes económicos e financeiros.
Porque afirma o autor no final desse mesmo prólogo: “se o governo e a sua máquina de repetidores entende que pode confiscar salários, empregos, carreiras, horas de trabalho, e direitos legalmente adquiridos pelas partes , e aí não se preocupa com a ‘blindagem’ (que foi o que o Tribunal Constitucional garantiu, mesmo que precariamente), torna igualmente legítimo que se defenda o confisco da propriedade e dos contratos, a começar por aqueles que unem credores e devedores, ou partes num swap ou numa PPP.” (pág.22)
Precisamos, efetivamente, de um governo que reequilibre a sociedade, de forma a que não continue a só legislar para quem julga ter só direitos e nenhuns deveres...

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